Topo

Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Condenado, Robinho leva vida boa. Cancelamento poupa abusadores ricos

A segunda instância do Tribunal de Apelo de Milão, na Itália, condenou o atacante Robinho a nove anos de prisão, confirmando a decisão tomada em primeira instância                              - Santos/ divulgação
A segunda instância do Tribunal de Apelo de Milão, na Itália, condenou o atacante Robinho a nove anos de prisão, confirmando a decisão tomada em primeira instância Imagem: Santos/ divulgação

Colunista de Universa

07/01/2022 04h00Atualizada em 08/01/2022 10h16

"Estou rindo porque não estou nem aí. A mulher estava completamente bêbada, não sabe o que aconteceu."

Essa frase emblemática foi usada pelo jogador de futebol Robinho em conversa com amigos em 2013. Eles falavam sobre o fato de terem feito sexo com uma mulher bêbada em uma boate em Milão. Os amigos não se preocupavam com a moça, uma modelo albanesa, mas com a possibilidade de uma acusação de estupro.

E, sim, eles foram acusados. E, mais do que isso, condenados. Robinho e o amigo Ricardo Falco foram condenados em primeiro grau em 2017. Em 20 de dezembro de 2020, eles tiveram a apelação em segunda instância negada pela Corte de Apelação de Milão. A Justiça italiana sentenciou o ex-jogador a nove anos de prisão por estupro.

No dia 19 de janeiro, a Corte vai julgar a última apelação. Depois disso, segundo a legislação italiana, se o recurso não for aceito, ele deveria ser extraditado para a Itália (coisa que a legislação brasileira não permite) ou preso. Vamos ver.

Robinho, desde que o caso veio à tona, se faz de vítima. Ele chegou a dizer em entrevista ao UOL que era perseguido porque "infelizmente, existe esse movimento feminista, que não sei o que, e muitas mulheres às vezes não são nem mulheres, para falar o português claro, e que se levantam contra". Na ocasião, ele também disse que não se arrependia de nada, apenas de ter traído a esposa. Sendo que transar com mulher bêbada é estupro, para quem, como alega Robinho, não sabe.

Segundo reportagem publicada no UOL na quinta-feira (6), o "perseguido" (contém ironia) jogador leva uma vida pacata e privilegiada enquanto espera o resultado do recurso, uma vida boa mesmo.

Ele tem duas casas. Uma em Santos e outra no Guarujá para dias de folga. Ele também não precisa se preocupar com dinheiro, já que vive de renda.

O grande problema para ele parece ter sido ter um contrato com o Santos cancelado, mas mesmo assim, ele recebeu R$ 1,8 mi do time por causa de uma dívida do clube com ele. E, segundo a reportagem, recebeu convites para jogar em times menores no Brasil e no exterior.

Isso não é surpreendente, já que até o goleiro Bruno, condenado por matar a ex-namorada Eliza Samudio, com requintes de crueldade, teve contrato com times profissionais depois que saiu da prisão.

No caso de Robinho, ele espera voltar a jogar pelo Santos, se absolvido.

A primeira parte não vai ser fácil, já que, repito, ele foi condenado em duas instâncias. Já voltar para o time pode não ser tão difícil, já que o Santos relutou muito em cancelar o contrato com o atacante.

Em outubro de 2020, quando o caso já era um escândalo no Brasil e o time começou a perder patrocinadores, eles emitiram uma primeira nota falando que que Robinho era vítima da "cultura do cancelamento".

Bem, vítimas são as mulheres que são vítimas de estupro (uma a cada oito minutos no Brasil, segundo dados de 2021). Essas, quando sobrevivem, carregam traumas para sempre.

Já os homens, quando ricos e famosos, costumam escapar sem grandes problemas.

Em uma das gravações de conversas de Robinho com seus amigos, o jogador conta rindo que deu o seguinte conselho para Ricardo Falco, que também foi condenado: "cara, você quer um conselho? Não vai nem lá, volta pro Brasil, pelo menos tu não fica em cana."

Pior é que Robinho pode ter razão.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do publicado, Robinho recebeu do Santos FC o valor de R$ 1,8 mi devido a uma dívida que o clube tinha com ele.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL