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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasil: três dias, três feminicídio de grávidas. E Damares não fala nada

Colunista de Universa

07/02/2022 15h00

Jéssica Regina estava grávida de nove meses e foi morta com um tiro no sábado em Santo Estevão, na Bahia. O suspeito do crime é o marido dela, o ex-vereador George Passos. No mesmo dia, outra mulher grávida (de sete meses), foi vítima de feminicídio no Brasil: Cícera Raquel da Silva tinha apenas 18 anos e foi morta com um tiro na cabeça. O suspeito também é o seu marido.

Não foi só isso. Alguns dias antes desses dois crimes bárbaros aconteceu outro tão horrível quanto: Antonielle Nunes Martins foi assassinada na quinta-feira da semana passada em Pimenta Bueno, em Rondônia. Ela também estava grávida e o suspeito é o policial civil Gabriel Henrique Santos Souza que, segundo a imprensa local, tinha um caso extraconjugal com Antoniele e não queria assumir a paternidade da criança.

No caso de Antoniele, um detalhe cruel. O suspeito teria aproveitado que os dois estavam dormindo abraçados de conchinha para atacar a mulher com um mata leão e esfaqueá-la. Ou seja, até quando uma mulher está abraçada com o parceiro e se sentindo segura ela pode estar correndo risco de vida.

Outra prova de que não temos paz: os três crimes aconteceram onde as pessoas mais deviam se sentir seguras: dentro de suas casas. Mas mulheres não podem se dar a esse luxo, já que esse é o cenário da maioria dos feminicídios. No Rio de Janeiro, por exemplo, esse foi o cenário desse crime em 75% dos casos em 2020.

Cultura machista

Não existem justificativas para crimes como esse. Nada no mundo seria motivo para que essas pessoas fossem assassinadas.

Mas podemos dizer com certeza que esses crimes são reflexo de uma cultura machista violenta, onde a vida das mulheres não vale muita coisa e odiá-las é liberado.

O fato de pelo menos três mulheres grávidas serem vítimas de feminicídio em 3 dias no Brasil é mais uma prova da barbárie contra mulheres em curso no Brasil, que é terrível há anos. E que só piora.

Em 2021, cerca de quatro mulheres foram vítimas de feminicídio por dia no país. Em 2020, o número total foi de 1350 Esse ano, tudo indica que essas tristes estatísticas não vão melhorar, pelo contrário. Só na noite de ano-novo, sete mulheres foram mortas por seus parceiros. E agora?

Pelo jeito, não podemos contar com o governo. Além do presidente Jair Bolsonaro ser um amante das armas, os crimes também não foram lamentados oficialmente pela Ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos Damares Alves, ferrenha militante contra o aborto. Enquanto os crimes ocorriam, ela lançava semana passada uma campanha contra a erotização precoce das crianças e escolhia o TikTok como alvo.

Tudo indica que nada vai acontecer. As três vão apenas se somar às estatísticas. E os assassinos logo serão soltos.

Como dizem, "é nós por nós". E ainda dizem que as mulheres exageram quando denunciam o machismo no Brasil.