Mãe atacada por usar macaquinho: internet institucionaliza bullying materno

"Só as mães são felizes". Quando Cazuza escreveu essa frase, ele certamente não sabia o que era patrulha materna, já que essa expressão ainda não era popular, apesar do tal comportamento já existir.

Mães desde sempre são alvo de todo o tipo de inquisição e opiniões alheias sobre tudo. Pessoas da fila do supermercado e desconhecidos do Instagram acham que sabem mais do que elas sobre seus próprios filhos e, além de suas habilidades maternas, seus comportamentos como "mães de família" também são julgados. Isso não é novidade. Mas as redes sociais institucionalizaram o "bullying materno", os ataques em grande escala a mães.

Relacionadas

'Será o fim da monarquia': por que Camilla ser rainha é tão polêmico?

Mãe é atacada na web ao usar macaquinho de lycra para levar filho à escola

Quem é a mãe que foi atacada por deixar filho na escola usando macaquinho

A patrulha agora virou "exposed", o que significa exposição e crítica em grande escala.

Foi o que aconteceu com Vanessa Medina, advogada e modelo boliviana de Santa Cruz de La Sierra.

Em um vídeo que circula nas redes sociais e viralizou no mundo todo, ela é mostrada levando o filho à escola com trajes "inadequados" (seja lá o que seja o "adequado").Tratava-se, no caso, de um macaquinho de lycra, estilo fitness.

Ela foi filmada por outra mãe, que esperava naquela fila de carros que se formam na saída de escolas. Para piorar tudo: a tal mãe que se acha a patrulha fashion da porta da escola postou o vídeo na internet, com direito a opiniões suas do estilo: "olha que vergonha".

O "exposed" viralizou. E, nesse momento, pessoas do mundo todo debatem a roupa de uma mãe da Bolívia.

Não, não existe roupa certa para levar criança na escola, nem um código de vestimenta que uma mulher deva cumprir só porque virou mãe. E, não, ninguém tem o direito de sair atacando uma mulher na internet porque acha que a roupa dela não é a certa para qualquer coisa. Isso é inaceitável.

E é chocante que mulheres usem o expediente de fazer uma espécie de "revenge porn" (crime que acontece quando homens "vazam" de propósito vídeos íntimos de namoradas) de outras mulheres.

Mas ela não é a única vítima desse tipo de bullying. Vez ou outra uma mãe famosa é atacada por ter emagrecido demais, por "não saber segurar o filho" (como pode?), pela roupa que o filho usa e por aí vai.

No caso da patrulha das roupas, ela não atinge só as mães, claro. Mulheres sempre foram acusadas por usar roupas curtas demais, o que inclusive ainda serve como desculpa para abuso, por mais absurdo que isso seja. Uma pesquisa feita em 2014 pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostrou que 64% dos brasileiros achavam que "mulheres que usavam roupas curtas mereciam ser atacadas". Não, isso não aconteceu nos anos 50.

No caso das mães, elas acabam virando um alvo duplo. Além de serem criticadas por suas roupas como toda mulher é, ainda recebem críticas por "não saberem se portar porque são mães". Como se existisse tal cartilha e como se qualquer mulher tivesse a obrigação de ser "recatada e do lar".

Enquanto isso, os pais? Bem, se um homem for levar o filho na escola de sunga, provavelmente vai ser considerado um exemplo. Afinal, ele é um pai incrível, ele até leva o filho à escola. Como se isso não fosse obrigação.

Pobres mães.