Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Para nora de Bolsonaro, 'mulher cuida do ninho, homem caça'. O ano é 1950?
"A maioria das mulheres que eu conheço gostaria de estar em casa se dedicando aos afazeres domésticos, à família, enquanto o homem sai para caçar." Essa frase, juntamente com toda uma reflexão sobre "o lugar da mulher na sociedade" atual (que no imaginário dos "novos conservadores" do Brasil está mais parecida com o mundo no século 19) foi feita pela coach e psicóloga Heloísa Bolsonaro, esposa do deputado Eduardo Bolsonaro e nora do presidente Jair Bolsonaro no Instagram.
Heloísa costuma usar suas redes sociais para dar conselhos e dicas para mulheres. Nas últimas horas, a coach, que em seu Instagram diz mostrar bastidores da "família real", extrapolou e deu dicas que parecem de manual de boa esposa dos anos 50: "a mulher tem um papel fundamental no equilíbrio de um lar, do marido", ela disse, completando que nós, mulheres, temos um papel fundamental na sociedade: "ser o equilíbrio e o sustento emocional de um lar para que o homem brilhe".
Ou seja, a gente que fique em casa, com aventais, como em filmes antigos, bem penteadas e maquiadas, claro, afinal, os homens gostam de mulheres "bem cuidadas", preparando o jantar, arrumando a casa e deixando tudo preparado para que o homem, esse "rei", possa relaxar quando chegar em casa. Que vidão.
E, segundo ela, o que torna tudo mais surreal, nosso destino já está traçado e, nós, independentes, temos traído a nossa natureza. Com a palavra, Heloísa: "As mulheres querem ser mães, isso é da nossa natureza. A nossa biologia é diferente. Os homens, desde os primórdios vão a caça enquanto a mulher cuidava do ninho."
Bem, Heloísa, a gente não vive mais nas cavernas. Inclusive, os homens não podem mais nos puxar pelos cabelos. Se fizerem isso podem ser enquadrados pela Lei Maria da Penha, conquistada por uma mulher. O mundo evolui todos os dias. E em parte porque mulheres lutam para que essas mudanças ocorram.
E não, a nossa grande vontade não é "ter um homem caçador enquanto cuidamos do ninho".
A gente quer ser independente, ter uma vida autônoma interessante. E não, isso não nos impede de sermos boas mães. E tem mais: nós, que não temos filhos (meu caso), não somos infelizes por causa disso nem traidoras da "natureza feminina".
O que gostaríamos é de ter as mesmas oportunidades e o mesmo tratamento que os homens no mercado de trabalho. E condições dignas para cuidar das crianças, como acesso a creches (o que inclusive é obrigação do estado. Inclusive, Heloisa, o seu sogro poderia ajudar).
Mulheres ainda ganham 19% a menos que os homens no Brasil, conforme dados do IBGE. Quando elas sobem na carreira, a diferença aumenta e pode chegar a 30% a menos, segundo o mesmo instituto. Cerca de 90% dos CEOs de empresas no Brasil são homens e brancos. Mas isso, de acordo com a coach, não é porque vivemos em uma sociedade estruturalmente machista, onde mulheres já foram proibidas de trabalhar. Segundo a Heloísa, é mais simples:
"Por que mulheres não estão no cargo de CEO? Porque não é toda mulher que está disposta a viver uma vida de CEO."
Que tal? Segundo ela, mulheres só não ganham mais e têm oportunidades porque a gente não quer!
O que queremos mesmo, na lógica dela, é "cuidar do seio familiar!". Ser sustentada? Não ter autonomia? Quem liga? "Não vejo problemas em uma mulher ser submissa a um homem", diz Heloísa em sua pregação.
O quanto é sério isso?
Sociedades onde as mulheres são submissas aos homens são aquelas onde elas precisam pedir autorização dos maridos para estudar e trabalhar. Sabe onde é assim? No governo do Talibã. A que ponto chegamos.
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