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'Não é sobre aparência', diz brasileira de 37 anos que venceu Miss Alemanha
No começou da semana, junto com notícias sobre uma possível guerra e um furacão, a TV do metrô de Berlim, que exibe os destaques dos dias, mostrava a seguinte manchete: "Ativista brasileira da favela é a nova Miss Alemanha". Domitila Barros, 37 anos, de uma comunidade de Recife, era também capa de jornais populares.
No dia após vencer o concurso, a recifense que se mudou para a Alemanha em 2006 para fazer um mestrado em ciência política na prestigiada "Freie Universitat", em Berlim, ainda estava incrédula e, ao mesmo tempo, eufórica.
"Estou tendo nos últimos dias um poder de levar meus projetos e meu ativismo para mais pessoas do que tive em 20 anos. Estou sem voz, cansada, mas muito orgulhosa de ser a nova Miss Alemanha", disse a Universa.
Os projetos, no caso, são a sustentabilidade, a igualdade social e o direito à educação. "Eu mesmo sou um exemplo. A educação salvou a minha vida. Quero inspirar e mostrar que, se eu posso, outras mulheres também".
A felicidade de Domitila não é por se achar "a mulher mais bonita da Alemanha" ou por ter ganho dinheiro e presentes. A razão é maior, já que desde de 2020, o concurso se reformulou.
Depois de muitas críticas, os organizadores concluíram que de fato não fazia mais sentido que mulheres desfilassem de maiô para serem avaliadas por homens. E se reinventou. Agora, o concurso premia mulheres que têm uma "missão" social no mundo, caráter e que podem empoderar outras mulheres. Ao invés das medidas do quadril, o que conta é a trajetória.
E a de Domitila é mesmo impressionante.
Em 2000, com apenas 15 anos, ela foi escolhida para ser uma das representantes do projeto "Millenium Dreams", da Unesco. Uma responsabilidade e tanto. Antes de vir para a Alemanha com uma bolsa de estudos, ela já tinha se formado em serviço social em Recife e desde adolescente trabalha no projeto
CAMM (Centro de atendimento de meninos e meninas), organização criada por sua mãe na Linha do Tiro, comunidade onde Domitila nasceu em Recife.
Hoje, ela é criadora de uma grife de biquínis e joias produzida por mulheres da comunidade e é focada na sustentabilidade. Domitila também trabalha como modelo e se autointitula "influenciadora verde". No caso, isso vai além dos likes. Seu trabalho já foi reconhecido até pelo Ministério do Meio Ambiente da Alemanha. Agora, ela quer fazer ainda mais.
"No Miss Alemanha não ganhamos dinheiro, viagem, nada disso. O que ganhamos é uma plataforma para levar a frente nossos projetos e divulgar nossa missão."
Com a vitória, ela também faz história. Domitila é a primeira mulher negra e imigrante a ganhar o concurso.
"Sou imigrante negra e tenho meu passaporte. Acho super importante que o novo Miss Alemanha não seja sobre aparência, sobre ter nascido aqui. Mas sobre a sua missão, quem você é. No início estava cética, achei que eu não conseguiria comparado a alemães que nasceram aqui e tem essa aparência mais europeia. Mas realmente isso não conta. O que estão fazendo com o concurso é muito corajoso e sério"
E foi justamente por acreditar na diversidade que Domitila resolveu se inscrever no concurso.
"Quando li sobre diversidade e missão social, e o empoderamento, achei realmente que era para mim. Mas não esperava nada. Quando vi que entre 12 mil candidatas eu estava entre as 150 selecionadas eu não acreditei"
Segundo ela, até o clima entre as participantes era diferente do que imaginamos em concursos de beleza, onde as mulheres competem entre si, algumas vezes até brigando.
"Quando eu ganhei as outras candidatas pularam em cima de mim e me abraçaram, foi muito emocionante. São mulheres que estavam competindo, mas isso não contou. O concurso foi realmente sobre inspirar umas às outras."
Como ela mesmo tem dito em entrevistas após ganhar o título, "a favela venceu". E a união feminina também.
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