Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Paulinha Abelha e a pressão que leva mulheres aos remédios para emagrecer
Ela tinha apenas 43 anos, era uma mulher talentosa, cheia de vida e de planos. A cantora Paulinha Abelha, vocalista do Calcinha Preta, morreu no dia 23 de fevereiro, depois de apenas 12 dias internada. É uma tragédia, triste demais e revoltante.
E não só porque ela era jovem e talentosa. Segundo reportagem exibida no "Fantástico" do último domingo, Paulinha pode ter morrido por uma síndrome causada por excesso de remédios diuréticos para emagrecer. Ou seja, é possível que a cantora tenha sido mais uma vítima da pressão estética, aquela que atinge todas as mulheres, cobradas para serem "mais magras", "mais jovens", "mais bonitas" e por aí vai.
Nossa aparência nunca é o suficiente. Aprendemos desde cedo que algo sempre está errado e que precisamos nos adequar.
Em alguns casos, isso custa mais do que a saúde mental (não é fácil passar a vida toda se achando feia), mas também a vida. Várias mulheres morrem por plásticas que deram errado, ou por causa de remédios milagrosos para emagrecer.
No início de fevereiro, a enfermeira Edmara Silva do Abreu, de 42 anos, morreu vítima de hepatite fulminante após fazer uso contínuo de um chá para emagrecimento.
No caso de Paulinha, de acordo com reportagem do "Fantástico", ela sofreu uma síndrome metabólica que causou um comprometimento multissistêmico. E, segundo depoimento do viúvo da cantora, Clevinho Santos, ela tomava remédios para emagrecer, como diuréticos.
"Quase toda semana ela estava tomando. Quando tinha show, e ela queria 'dar uma secada', tomava também esses chás de emagrecer", contou.
A maioria das mulheres entende completamente a cantora, inclusive porque já passou por isso. Segundo pesquisa realizada pelo instituto Sophia Mind em 2019, 56% das brasileiras não estavam felizes com seus corpos. E, atenção, graças ao trabalho de muitas mulheres que lutam contra a gordofobia e a pressão estética, as coisas estão melhorando. Há dez anos, esse número passava de 90%.
No caso dos anos 1980 e 1990, quando Paulinha era criança e adolescente, as trocas de receitas milagrosas começavam quando ainda éramos adolescentes, na escola. Sim, eu me lembro muito bem. Na época, essas receitas e os nomes de remédios eram escritos em agendas e trocados sem a menor cerimônia.
A busca pelo corpo ideal é comum e segue pela vida toda. No caso dos famosos, ainda existe a patrulha "das redes sociais" ou de paparazzi. Sim, mulheres como Paulinha passam a vida sendo vigiadas. Se emagrecem, "estão muito magras", se engordam, "estão fora de forma". Difícil não ceder diante de tanta pressão.
Mas, infelizmente, essa cobrança também não é privilégio dos famosos. Se ouvimos a vida toda que temos que ser magras ou se só vemos imagens de mulheres magras como referência de beleza, vamos achar o quê? Que nunca estamos bem.
Principalmente porque essa indústria do emagrecimento e da estética conta com a nossa infelicidade para vender e lucrar. Quanto mais insatisfeitas, mais recorremos a soluções milagrosas. É um ciclo sem fim, que mulheres tentam quebrar todos os dias como movimentos como o "corpo positivo", por exemplo. Mas ainda é pouco. Ainda estamos perdendo.
O fato de Paulinha, uma mulher tão esplendorosa, recorrer a esses remédios é só uma prova disso.
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