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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Paulinha Abelha: médicos irresponsáveis usam pressão estética para lucrar

Paulinha Abelha, vocalista da banda Calcinha Preta (Foto: Reprodução) - Reprodução / Internet
Paulinha Abelha, vocalista da banda Calcinha Preta (Foto: Reprodução) Imagem: Reprodução / Internet

Colunista de Universa

07/03/2022 11h41

Um antidepressivo que tem como efeito colateral o emagrecimento, um redutor de apetite, uma fórmula que promete reduzir medidas e mais uma série de substâncias. Esses foram alguns dos medicamentos que fizeram parte do coquetel de emagrecimento receitado por uma nutróloga para a cantora Paulinha Abelha, que morreu em 23 de fevereiro.

Segundo reportagem exibida no programa Domingo Legal, da Record, o laudo feito após a morte da cantora encontrou 16 substâncias em seu corpo, entre elas, anfetamina e barbitúricos.

Especialistas acreditam que esse coquetel de emagrecimento que foi receitado para ela por uma médica seja uma das causas de sua morte. Paulinha teve meningoencefalite, hipertensão craniana, insuficiência renal aguda e hepatite.

Todos esses medicamentos, repito, foram prescritos por uma profissional renomada, que dava, inclusive, entrevistas para a TV. E, o pior de tudo, ela não é a única a receitar coquetéis de emagrecimento da morte para pacientes que querem emagrecer. E Paulinha não é a única vítima. Muito pelo contrário.

O Brasil é um dos maiores consumidores de remédios e fórmulas para emagrecer do mundo.

De mãe para filha

Há 15 anos, fiz uma reportagem sobre vício em anfetamina para a revista "TPM". Na época, entrevistei meninas jovens, algumas menores de idade, que ficaram viciadas no remédio. Algumas foram levadas a tomar o medicamento por médicos que também tratavam as suas mães. Ou seja, essa é uma droga que muitas vezes passa de mãe para filha.

O Brasil já foi o maior consumidor de anfetamina do mundo. Até que, em 2011, a Anvisa baniu a venda da maioria dos inibidores de apetite à base de anfetamina no país. Depois de idas e voltas, com direito a pressão de médicos para a liberação da droga, em 2021 a decisão da Anvisa foi mantida pelo STF. No entanto, ainda existem alguns remédios com a substância que são vendidos no país.

É terrível que uma sociedade seja tão gordofóbica e que a pressão estética faça com que mulheres arrisquem suas vidas. Mas, no caso, essas substâncias são receitadas por médicos irresponsáveis, que prescrevem esse tipo de medicamento a torto e direito, causando danos muitas vezes irreversíveis em suas pacientes.

A indústria do emagrecimento movimenta muito dinheiro. Esses médicos lucram bastante. Mas, o lucro a qualquer custo precisa ser penalizado. Afinal, não estamos falando da venda de cremes de beleza, mas de substâncias que podem levar pessoas à morte.

Quantas mulheres como Paulinha precisam morrer para que haja uma tomada de consciência e que os responsáveis por prescrever essas bombas químicas a suas pacientes sejam responsabilizados?

Não é possível que esses profissionais continuarão impunes, fazendo mais e mais vítimas. Afinal, clientes não vão faltar, já que a pressão por ser magra segue firme e forte.

Pelo menos por enquanto, é mais fácil penalizar os médicos e nutricionistas irresponsáveis do que esperar que a pressão pelo emagrecimento acabe?