Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro, Damares e Aras fazem homenagem ao Dia da Mulher virar ofensas
Era para ser um dia de homenagens, mas mais pareceu um pesadelo. Ontem, Dia Internacional da Mulher, personagens do governo brasileiro, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, resolveram prestar suas homenagens. Eles até se esforçaram. Mas acabaram nos ofendendo de diversas formas.
Vamos começar pelo presidente, que conquistou fama internacional como misógino. Junto a ministros e aliados, ele participou de uma cerimônia especial no Palácio do Planalto dedicada ao Dia da Mulher. Em um cenário rosa-choque e vestindo uma gravata... cor-de-rosa —como se para exaltar as mulheres bastasse produzir um cenário "estilo princesa"—, ele pegou o microfone e disse: "Hoje, as mulheres estão praticamente inseridas na sociedade".
Fica até difícil comentar. Mas vamos lá. As mulheres, que o presidente acha "quase são parte da sociedade", ou seja, são quase cidadãs, formam, aproximadamente, 50% da força de trabalho do país. Segundo o IBGE, somos 52,2% da população brasileira e chefiamos 40% dos lares brasileiros. Por ironia, o presidente colocou a gravata rosa para tentar conquistar o voto feminino.
Sim, apesar de as mulheres apenas "fazerem parte da sociedade", desde 1932 podemos votar. E, no que depender do voto feminino, o presidente perde no primeiro turno. Apenas cerca de 20% das mulheres pensam em depositar seu "sim" a ele, segundo pesquisa do PoderData.
Na mesma cerimônia, usando uma camiseta da mesma cor do cenário, Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, disse que o governo era "cor-de-rosa".
Na sua cerimônia de posse como ministra, comemorou dizendo: "Esse é um novo tempo, meninas vestem rosa e meninos vestem azul". No quarto ano de governo, ela parece ainda acreditar nisso. Em seus discursos, agradeceu os "meninos" (os ministros) que ajudam o governo a ser "cor-de-rosa".
Transformar uma pauta feminina em cenário de festa de 15 anos é ofensivo. Não somos meninas pedindo favores aos meninos da escola. Somos pessoas adultas, com pautas sérias e urgentes, que envolvem a nossa luta por sobrevivência.
Unhas pintadas
Em outro evento, promovido pelo Conselho Nacional do Ministério Público, o procurador-geral da República, Augusto Aras, conseguiu ir além. Ele disse que a data serve para homenagear "a mulher que tem o prazer de escolher a cor da unha que vai pintar. A mulher que tem o prazer de escolher o sapato que vai calçar".
Há anos gritamos que o Dia Internacional da Mulher é sobre luta por direitos, como equidade salarial, creches públicas e luta contra a violência de gênero. Aí vem uma autoridade dessas, procuradora-geral da República, nos resumir a pessoas que escolhem cor de esmalte e modelo de sapato. Como se fôssemos Barbies.
Há anos, o Dia da Mulher não tinha um gosto tão amargo.
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