Bolsonaro e filhos repudiam Do Val, mas praticam mesmo machismo asqueroso

Aconteceu. A família Bolsonaro está indignada com o comportamento de um deputado misógino (e não, não se trata de uma revolta contra eles mesmos). O presidente Jair Bolsonaro e seus filhos têm passado os últimos dias demonstrando choque e horror com as atitudes do deputado Arthur do Val, que em áudio enviado da Ucrânia, disse que as mulheres refugiadas de guerra eram "fáceis por serem pobres".

O presidente disse não ter nem palavras para comentar algo tão "asqueroso". Indignado, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) disse no Twitter que o "pilantra precisa ser cassado". Se eles não fossem pessoas que vivem dando declarações exatamente no mesmo nível de Arthur do Val, poderíamos até achar bacana essa súbita preocupação com a cultura do estupro. Só que temos memória.

Relacionadas

Penna pede cassação de Do Val, mas prevê impunidade: 'Machismo prevalece'

Em 2016, Do Val foi denunciado por assediar estudante: 'Tocou meu seio'

Cassação de Arthur do Val seria o melhor presente neste Dia da Mulher

Nunca nos esqueceremos de quando o presidente disse, em 2019, sobre o risco do Brasil virar um "paraíso gay" (sic): "se os homens quiserem vir fazer sexo com as mulheres, fiquem a vontade". Na ocasião, ele tratou as mulheres brasileiras como um produto a ser ofertado para os estrangeiros e ignorou o horror do turismo sexual, que hoje é repudiado por eles.

E também nunca esqueceremos (e sempre que lembrarmos teremos náuseas) que o atual presidente da República é alguém que disse para Maria do Rosário: "você é muito feia para ser estuprada". Essa frase, dita em 2014, roda o mundo e certamente vai ser usada em livros de história para ilustrar o machismo do presidente e sua família.

Tudo isso é "asqueroso" mesmo, presidente.

Mas esse é mesmo um bom exemplo para ilustrar a forma como Jair Bolsonaro e seus filhos enxergam as mulheres e o estupro. Para eles, estupro seria algo que mulheres "mereceriam" e uma espécie de favor para as que eles consideram "feias".

Sim, tem que odiar muito as mulheres para pensar dessa forma. Mas essa linha de raciocínio se repete entre eles.

Em 2015, o mesmo deputado Eduardo Bolsonaro, que anunciou que vai pedir a cassação de Arthur do Val, publicou em seu Twitter uma foto da deputada Jandira Feghalli (PT) ironizando uma notícia sobre ameaças de estupro sofridas pela por ela. Seus seguidores pegaram a deixa e completaram a "piada" "mas quem vai querer estuprar um canhão desses?". A mesma deputada já foi chamada por Eduardo de "Cuca", junto com uma ilustração da bruxa do Sítio do Pica Pau Amarelo.

Na Câmara dos Deputados, Eduardo tem predileção por atacar suas colegas mulheres.

Durante a CPI do Covid, ele chamou a senadora Simone Tebet de "Maria do Rosário do Senado". Sim, eles são obcecados por Rosário e por chamar mulheres de loucas.

Eduardo já disse que a bancada feminina na câmara era a "gaiola das loucas" e chamou suas colegas de "portadoras de vagina". Os ataques não se restringem a deputadas e senadoras, mas também atingem artistas, jornalistas e... qualquer mulher.

Exemplo recente. Em fevereiro, Eduardo Bolsonaro compartilhou um vídeo cheio de frases machistas culpando a contratação de mulheres engenheiras por um acidente durante as obras do metrô em São Paulo. A fala, claro, foi repudiada pela categoria.

A mudança súbita de discurso talvez se explique pelo fato dos homens da família Bolsonaro quererem se aproximar das eleitoras mulheres. Segundo pesquisa do PoderData realizada de 31 de janeiro a 1º de fevereiro, Bolsonaro tem intenção de voto de apenas 22% das mulheres. Ou talvez seja apenas um ataque contra os ex-aliados do MBL, de quem agora tentam se distanciar.

Mas eles acham que vamos acreditar? Pode até ser, já que achar que somos burras é com eles mesmo. Mas estamos cientes de tudo.

Sim, a fala de Arthur do Val é asquerosa. Mas é asqueroso do mesmo jeito que tudo isso que já ouvimos do presidente e seus filhos. Asqueroso.