Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Nem 'boba, nem 'fraca': Ministra do exterior alemã prova força na guerra
"Fraca demais", "ingênua", "bobinha". Esses eram alguns dos adjetivos usados até o mês passado para se referir à ministra das relações exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock.
A ministra, a primeira mulher a ocupar o cargo, tem 40 anos, usa vestido com bota, corte de cabelo moderno e é mãe de dois filhos. Por que falo das roupas da ministra? Porque foi essa aparência, junto com o machismo de todos os dias, que fez com que tanta gente duvidasse que ela daria conta do cargo de comandar a política externa de um dos países mais poderosos do mundo.
Veio a guerra. Annalena Baerbock virou uma das vozes mais fortes contra o governo Putin. Em um discurso para a assembleia geral da ONU, ela disse, diretamente para Sergey Lavrov, chanceler russo: "seus tanques não levam água, não levam comida para bebês, seus tanques não levam paz. Eles levam à guerra e destruição."
Ela usou o mesmo tom forte no dia seguinte à invasão, quando em uma conferência de imprensa disse para a população: "Hoje acordamos em um novo mundo. Estamos com medo. Mas não estamos desamparados". Ela também cobrou que os países fizessem sérias sanções contra a Rússia: "não dá para ficar em cima do muro entre a guerra e a paz", disse.
Funcionou. E a ministra passou a ter um papel crucial na crise.
Em apenas poucos meses, ela passou de "bobinha" a "política admirada", líder e uma das pessoas com mais poder na resolução do conflito.
Em artigos na imprensa alemã, articulistas se dizem surpresos. Até adversários políticos elogiam a sua força. Ou seja, para surpresa de um total de zero mulheres a aparência de garota descolada era, sim, capaz de fazer o seu trabalho em um momento de máxima tensão, com uma guerra no continente, a duas horas de avião de Berlim, a capital do país.
Não estou falando que todos concordem com as decisões dela e do governo do qual ela faz parte (como o envio de armamento para a Ucrânia e um grande investimento no exército alemão). Mas uma coisa é certa: todo mundo viu que de boba e "fraca" ela não tem nada. Sua popularidade cresce e o respeito a ela também. No momento, segundo pesquisas, ela é a segunda política mais popular do país, perdendo apenas para o chancelar Olaf Scholz.
Política externa feminista
Anaelena, que foi candidata a Chanceler nas últimas eleições pelo partido verde, não ocupa essa posição por acaso. O atual governo da Alemanha é formado por uma coalizão dos partidos SPD, Grunen e FDP. Quando assumiram, em dezembro, eles se comprometeram a implementar uma "política externa feminista". Tratava-se, segundo eles, de fortalecer lideranças femininas mundo afora, fortalecer mulheres e meninas e apostar na diversidade.
A segurança do país, por exemplo, ficou na mão de mulheres. Além do ministério do exterior ser comandado por Baerbok, os ministérios da defesa e do interior também são comandados por mulheres.
Sim, são elas as responsáveis por decisões tão difíceis em meio à guerra em um país vizinho e crise na Europa. Repito: podemos até não concordar com as decisões que elas venham a tomar. Mas sabemos que elas são capazes. Por que não seriam?
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