Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Oscar: piada com aparência de Jada e defesa no tapa parecem viagem no tempo
Não é possível que alguém ainda ache normal a "piada" do comediante Chris Rock na cerimônia na noite de ontem.
Para quem não sabe da maior confusão no Oscar dos últimos tempos: o apresentador, conhecido pelo humor politicamente incorreto, fez uma piada com a atriz Jada Pinkett Smith, que sofre de alopecia, uma doença que causa a perda de cabelos. Ele riu e fez graça com sua aparência na cara dela. Inacreditável. Não, isso não é engraçado. O nome disso é bullying e agressão. Em seguida, o impensável: Will Smith, marido de Jada, subiu no palco, deu um tapa na cara de Chris, voltou para o seu lugar e gritou: "Tira o nome da minha mulher da sua boca!"
A cena toda parece um repeteco daqueles tempos da minha adolescência. Alguém faz uma piada com a aparência física de uma pessoa que tem uma doença (inaceitável). E um homem reage no tapa (precisava ser assim?).
Quem tem mais de 40 anos sabe bem. Crescemos em um mundo onde era normal e aceitável fazer piada sobre "defeitos" físicos das pessoas. Ninguém nem tinha coragem de falar que era errado o tipo de humor que ri do baixo, do "gordo", do "de óculos", da "dentuça" e por aí vai.
Nas salas de aula, o bullying corria solto (e essa palavra nem existia). Na TV e no cinema não era diferente. Algumas mulheres passaram a vida toda encenando em comédias de TV o papel de "a feia", onde eram ofendidas de todas as maneiras. No circo e também na TV, eram normais piadas com anões, gordos, pessoas com deficiência.
Nessa mesma época, era normal que homens "saíssem no tapa" em festa, muitas vezes por causa de mulheres. Essas atitudes (o humor podre e as brigas de "homens") são amplamente retratados em filmes como "Porky's" (alguém lembra?)
O tempo passou. Muita coisa mudou. Aprendemos expressões como bullying, gatilho e saúde mental. E o que acontece no Oscar de 2022? Uma volta a esses tempos tóxicos.
Piada que dói
Confesso: nesse caso, apesar dos dois homens terem atitudes tóxicas, simpatizo mais com Will. Acho que de fato esse tipo de humor que ri da dor do outro já deu. Chega. Não é aceitável. A maioria de nós carrega até hoje dores causadas por esse tipo de "piada".
Mas, como lembrou minha editora Bárbara dos Anjos Lima: "Tem coisa mais antiga do que briga onde mulher fica de pivô enquanto os homens se digladiam?". Ela tem razão: Jada olhava incrédula para os dois. E, por mais que muitos vejam o ato de Will como uma prova heroica de amor e proteção, imagino que ela deva ter sofrido dobrado: ela ouviu uma piada sobre a sua doença, ouviu os risos, e, no fim, deve ter sobrado para ela "cuidar" do marido que se descontrolou.
É assim que acontece faz anos. Certas coisas, infelizmente, não mudam. Mas algumas precisam se transformar urgentemente: uma delas é o humor que ri do outro.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.