Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
'Reage, bota um cropped': Meme é ótimo, mas um viva ao direito à exaustão
"Minha irmã acabou de me dar um grito de "VAI MULHER REAGE, BOTA UM CROPPED" enquanto eu choro" A frase, escrita pela estudante Maria Gabriela no Twitter em outubro do ano passado viralizou e virou, na minha opinião, um dos melhores memes dos últimos tempos.
Muitas vezes o que precisamos é disso mesmo, colocar um "cropped", literalmente ou não, parar de reclamar e sair por aí. Acontece que... não é sempre que dá para reagir. E muitas vezes estamos tão cansadas que não há cropped que resolva. Nesses casos, é melhor colocar um pijama e, ao invés de reagir, ir dormir. Nunca precisamos tanto descansar.
Os níveis de exaustão entre as mulheres são grandes e preocupam especialistas do mundo todo. Sim, nós vivemos cansadas e no limite.
Só faltava a gente ter essa pressão: a de sempre reagir rápido.
Aconteceu essa semana. A apresentadora Ana Clara escreveu no Twitter (para quem não sabe, a rede serve para esse tipo de desabafo): "Tô na beira do precipício de tanta coisa na minha cabeça para resolver". E acrescentou: "e tudo bem."
A apresentadora, que tem mais de um milhão e trezentos mil seguidores, recebeu muitas mensagens de incentivo. Uma delas dizia: "mulher, bota um cropped, reage. Vá resolver suas coisas."
Outros falaram que ela, por ser rica e ter um bom trabalho, não devia estar exausta.
Mas, gente! É óbvio que uma mulher que acorda às cinco da manhã, prepara o almoço, pega trânsito para o trabalho e quando chega em casa cuida dos filhos está ainda mais exausta.
Todos nós temos o direito à exaustão. Esse é um sentimento normal que acompanha pessoas que são sobrecarregadas. Especialmente as mulheres.
Há muito tempo inventaram que éramos multitarefas. Mas hoje sabemos que isso era só papo furado para justificar o fato de a gente fazer muito mais coisa que os homens e trabalhar muito (no trabalho, em casa, cuidando da família). E não, não tem nada de romântico nisso. Ao que isso leva é: exaustão, burnout, depressão e crises de ansiedade.
Não por acaso, nós, mulheres, somos campeãs em doenças psiquiátricas. Existe até um termo para identificar nossa "doença" social: fadiga feminina.
Campeãs de burnout
Já faz tempo que somos campeãs em depressão e ansiedade (doenças que aumentaram 25% no mundo com a pandemia, segundo a Organização Mundial de Saúde). Agora, somos as campeãs de burnout, a exaustão que deixa doente e de cama.
Pesquisa realizada pelas instituições Berlin Cameron. Eve Rodsks´s Fair Play e Kanton concluiu que existe um gap de exaustão entre mulheres e homens. Segundo a pesquisa, feita com mil trabalhadoras inglesas e americanas, 68% das mulheres já tiveram pelo menos um episódio de burnout na vida. Entre os homens, o número é de 50%.
Sim, além de ganharmos menos, ficamos mais cansadas. E ainda fomos educadas a pensar que tínhamos que ter paciência com os homens porque eles viviam estressados.
É muito injusto. E o que fazemos? Como boas mulheres, na maioria das vezes, reagimos e botamos um cropped, e, mesmo exaustas e com sintomas físicos, como enxaqueca, (para citar um que eu conheço bem), vamos lindas para o próximo compromisso.
Algumas vezes o que a gente precisa é não reagir. E descansar. O cropped que fique para outro dia.
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