Topo

Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Não ter ou querer filho não dá direito de barrar crianças e mães de lugares

Bar Miúda, no centro de São Paulo, esteve em meio à discussão após barrar mãe com filho - Reprodução Instagram
Bar Miúda, no centro de São Paulo, esteve em meio à discussão após barrar mãe com filho Imagem: Reprodução Instagram

Colunista do UOL

07/04/2022 04h00

Você frequentaria um bar onde a sua amiga não pode ir se levasse os filhos? Eu não. E não é só por solidariedade a minhas amigas e a todas as mães. Mas, principalmente, porque adoro os filhos dos meus amigos e as crianças em geral.

Falo, claro, do grande debate que surgiu depois que um bar da moda de São Paulo, o Miúda, barrou uma mãe com seu filho na entrada do local.

Para se defender, os donos do Miúda disseram que é assim mesmo, que eles não têm "programação para criança" (e provaram que não conhecem muitas delas. Quem disse que criança precisa disso? Quem precisa de DJ gringo é adulto).

Pessoas que banem crianças e mães são comumente chamadas de "childfree" (a tradução literal pode ser "livre de filhos" ou "livre de crianças"). Não têm filhos por opção e acham que crianças e mães (e pais) podem ser barrados de lugares, já que criança "enche o saco".

Seus cachorros são permitidos sempre, claro.

O "childfree" é uma espécie de movimento. Se você procurar, vai achar as discussões por aí. Existem ao redor do mundo hotéis, restaurantes e cafés que se intitulam assim. Em outras palavras, mães (ou pais) com filhos pequenos não entram.

Só que tem um detalhe importante: não é todo mundo que não tem filhos que pensa assim.

Não ter filhos não tem nada a ver com ser "childfree" e apoiar esse tipo de atitude. Não nos confundam. Falo por mim. Não tive filhos, mas amo crianças e, por mim, elas são sempre bem-vindas.

Sim, é possível decidir não ter filhos e ao mesmo tempo adorar crianças. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. E me desculpem, mas conheço mães que não gostam muito de criança em geral (mas amam os seus filhos e está tudo certo). Não acho que engravidar faz a gente gostar de criança. Mesmo.

A maioria das pessoas sem filho que eu conheço é como eu. A gente não teve filho porque não quis ou porque não rolou (isso acontece muito). Mas somos pessoas que respeitam as mães, assim como as crianças. E, se mexeu com elas, mexeu com a gente.

Também não achamos que somos tão mães quanto elas porque temos "pet". Até confesso que falo para a minha gata: "Vem com a mamãe" (ridícula, eu sei). Mas isso não quer dizer que eu ache que as mães e eu temos as mesmas pautas e preocupações, não é?

Por isso, que ninguém ouse falar perto de mim que é contra o aumento da licença maternidade (já briguei feio com um amigo por causa disso) ou que ouse ser cruel com nossas amigas mães.

Inclusive, a maioria das pessoas que eu conheço e não tem filhos nem tem uma vida exatamente "childfree". Já pensou em uma vida sem crianças? Seria um horror. E não pense que temos uma vida assim. Temos enteados, sobrinhos, filhos de amigos e muitas crianças na nossa vida, sim. Ainda bem.

Por isso, não nos convidem para suas festas sem crianças ou para seus bares descolados com bicicleta pendurada na parede se os pequenos não forem bem-vindos, ou para seus hotéis "livre de bagunça".

Já pensou se, em vez de ter a companhia de crianças em uma viagem, por exemplo, ter que conviver com os adultos "childfree" que as barram? Imagina o tédio.