Topo

Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Garoto, vai catar o que fazer': Anitta tratou presidente como ele merece

REPRODUÇÃO DAS REDES E JOSE DIAS/PALÁCIO DO PLANALTO
Imagem: REPRODUÇÃO DAS REDES E JOSE DIAS/PALÁCIO DO PLANALTO

Colunista de Universa

18/04/2022 13h09

"Ah, garoto, vai catar o que fazer". Essa frase poderia ter sido dita por alguém para um menino daqueles que fica "enchendo o saco" das crianças no play. Ou para um moleque que, na falta de coisa melhor, fica perturbando uma garota na escola. Mas não. Ela foi dita pela cantora Anitta para o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, no Twitter, durante o fim de semana. Em seguida, ela o bloqueou.

Anitta, despachada, tratou o presidente como ele merecia e lavou a alma de muitos de nós. Afinal, no caso de artistas como ela, que têm enorme poder de influência e se opõem abertamente ao governo, Bolsonaro é isso mesmo: um hater. E todo mundo que conhece um pouco das dinâmicas das redes sociais sabe que é assim que um hater deve ser tratado: você os coloca em seus lugares. E depois bloqueia. Fim.

O caso aconteceu nos dias em que Anitta mais brilhou. A cantora, como todo mundo sabe, fez uma apresentação perfeita no festival Coachella, onde homenageou o Brasil e as comunidades do Rio de Janeiro.

Ela estava falando com seus fãs no Twitter sobre ter usado as cores da bandeira do Brasil quando Bolsonaro (ou melhor, um dos seus admins) se meteu e debochou.

"A bandeira do Brasil e as cores da bandeira do Brasil pertencem aos brasileiros. Representam o Brasil no geral. Ninguém pode se apropriar do significado das cores da bandeira do nosso país. Fim", escreveu.

A equipe de Jair Bolsonaro aproveitou o momento para tentar "caçar treta", como se diz no Twitter. Eles copiaram a resposta da cantora e escreveram: "concordo", com o sinal de "ok" característico do presidente de várias bandeiras do Brasil".

A ideia deles era óbvia. Anitta responderia, à ironia, o presidente retrucaria. E logo, o nome de Bolsonaro estaria no topo dos assuntos mais comentados do dia. As denúncias de corrupção, a inflação, tudo isso ficaria esquecido enquanto todos falariam sobre a tal "treta".

Não alimente os trolls

Anitta explica por que parou de citar o nome de Bolsonaro, e diz ter entendido a estratégia da campanha do presidente - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Anitta explica por que parou de citar o nome de Bolsonaro, e diz ter entendido a estratégia da campanha do presidente
Imagem: Reprodução/Twitter

Todo mundo que já sofreu ataque em redes sociais conhece uma máxima que é a seguinte: "Não alimente os trolls" (os grupos de pessoas ou mesmo robôs que vêm em bando atacar). A lógica é muito simples. Se você para de responder aos ataques e bloqueia essas pessoas, elas perdem. Afinal, tudo o que eles querem é conseguir a sua atenção.

Anitta foi além e propôs que Bolsonaro seja tratado por todos nós como um "troll em redes sociais" e que seus opositores deixem de citar o seu nome.

"Nesse momento, qualquer manifestação contra ele por meio dos artistas vai ser convertida em forma de deboche pelas mídias sociais dele. Assim, o artista vira o chato é ele o cara bacana que leva tudo numa boa". Ela disse ainda que "já passa a ser mídia boa quando você cita o nome dele, não faz diferença se você citou de forma negativa ou positiva".

Não sei se concordo com a estratégia de Anitta. Mas uma coisa é certa. Muitos nomes importantes da política nacional ouviram com atenção o que ela disse (milagre, uma mulher sendo ouvida quando o assunto é política!) e estão propondo que o "fora Bolsonaro" seja trocado por nomes de candidatos às próximas eleições.

Não é só o Coachella que a Anitta sacudiu. Mas as campanhas políticas das próximas eleições presidenciais também. Isso não é pouco. Obrigada, Anitta.