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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ciro Gomes: aborto não é tragédia. Tragédia é a morte de mulheres

Colunista de Universa

20/04/2022 14h27

"O aborto é uma grande tragédia. Uma tragédia humana, uma tragédia social. E minha grande questão é: qual o papel do estado a favor dessa tragédia? Ninguém pode ser a favor do aborto. Só Ninguém pode ser a favor do aborto. Só o Lula, na leviandade dele, depois de passar 14 anos governando o Brasil, aparece simplificando essa questão"".

Essa declaração foi feita por Ciro Gomes durante sabatina realizada pelo UOL/Folha na manhã desta quarta-feira (20). O candidato deu essa declaração depois de muita insistência: "Se nós invadirmos a moral popular, a religiosidade, eles trocam. Esse é o reino do Bolsonaro. Comigo não, violão", disse para a jornalista e apresentadora Fabíola Cidral.

Ciro Gomes tem insistido que não é hora de se falar sobre a legalização do aborto e de outras "pautas de costume", com o risco de fortalecer Jair Bolsonaro.

Bem, Ciro, nós, mulheres feministas, achamos que é a hora de falar de aborto sim. Na verdade, já devíamos estar falando seriamente disso há muito tempo. É só olhar para nossos vizinhos na América Latina. Argentina, Colômbia, Chile. Todos têm legalizado o aborto. E a gente? Não podemos nem discutir o assunto? Vamos falar sobre isso sim. Queremos saber o que os candidatos, como você, pensam do tema.

E tem mais, o aborto não é necessariamente uma grande tragédia. Tragédia é o que acontece quando não existe aborto seguro, caso do Brasil, e mulheres morrem durante os procedimentos. Não existe um número exato de quantas mulheres morrem tomando remédios inseguros ou fazendo procedimentos perigosíssimos. Mas, segundo a Organização Mundial de Saúde, o aborto inseguro é uma das principais causas de mortalidade materna.

No Brasil, as principais vítimas, segundo pesquisa publicada em 2021 pela Revista da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, são mulheres negras, menores de 14 anos (ou seja, crianças), moradoras das periferias. Olha o tamanho da tragédia social e humana!

Mulheres de classe média, todo mundo sabe, fazem aborto seguro no Brasil em clínicas ilegais. Tragédia moral é todas não terem acesso ao mesmo procedimento seguro.

Quanto ao papel do Estado, bem, esperamos ter um governo que trate o aborto como uma questão de saúde pública. E saúde pública é um problema do Estado também, não?

É um clichê falar que "ninguém é a favor do aborto". Mas muitas de nós somos, sim, a favor do aborto legal e seguro. Não tem nada de monstruoso nisso.

Sim, esse é um assunto polêmico, que suscita ódio, reações extremadas. Mas não podemos fugir mais dele. Precisamos evitar que mais mulheres morram. Ou seja, que mais tragédias humanas e sociais aconteçam.