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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em podcast, Dilma diz que foi alvo de "escancarada misoginia". E foi mesmo

Montagem TV Cultura
Imagem: Montagem TV Cultura

Colunista de Universa

28/04/2022 13h11

"A misoginia recai sobre mulheres que saem do padrão bela, recatada e do lar e ousam entrar num âmbito masculino, como o do poder", a frase foi dita pela ex-presidente Dilma Rousseff no episódio da semana do podcast "Mano a Mano", apresentado por Mano Brown.

Em uma conversa de mais de uma hora e meia, a ex-presidente mostrou que está atenta, forte e combativa. E que também não tem memória curta e não esqueceu todo machismo que sofreu quando foi presidente do Brasil e durante o processo do impeachment.

"Não acho que eu sofri um golpe porque sou mulher. Sofri porque eu representava um projeto. Mas se utilizaram de uma escancarada misoginia para me dar o golpe."

Dilma, na época, foi vítima de misoginia e machismo de todas as formas. Ela foi transformada em monstro em caricaturas, chamada de feia, de velha, de burra. E, claro, de louca. Uma revista chegou a publicar uma capa sobre suas "explosões" dizendo que ela era uma mulher sem controle. Em um dos exemplos mais nojentos de misoginia, um adesivo com o desenho da presidente de pernas abertas foi colocado nos tanques de gasolina, simulando um estupro.

Parte desses ataques foram feitas pelo movimento MBL, do qual o ex-deputado Arthur do Val, que renunciou ao seu mandato depois de um escândalo causado por sua declaração de que as mulheres ucranianas eram "fáceis porque eram pobres", fez parte.

"Você lembra desse senhor que recentemente foi considerado por todos os meios de comunicação um ser que envergonha a cidadania brasileira, o Arthur do Val, o "Mamãe, falei"? Vamos lembrar o que ele falava de mim? Não vi por parte da mídia tradicional ninguém falar do absurdo que era alguém tratar da forma que ele tratava a primeira mulher presidente do Brasil", questionou.

Quando o áudio de Arthur do Val vazou, Dilma o chamou de "ser nefasto" e disse que foi qualificada pelo grupo como "prostituta", "ordinária", "burra", "vai para casa", "vai para o tanque".

Ela está certa. A misoginia deu a tônica das manifestações contra Dilma, e a noite da votação do impeachment deve ter sido um dos maiores espetáculos de machismo exibidos pela TV brasileira.

Será que hoje, seis anos depois, Dilma teria sido vítima de tanta agressão machista? Com certeza, e a fala recente de Arthur do Val só prova isso. Mas também acho que existiria uma reação muito maior contra a misoginia da qual a ex-presidente foi vítima. Algumas coisas mudaram para melhor nesse tempo, e uma delas é a falta de tolerância com o machismo. Dilma Rousseff, pelo jeito, concorda.

"Tenho muito orgulho da mulher brasileira. Foram quem mais me defenderam e se você olhar qualquer pesquisa vai ver que a maioria das mulheres não apoia o atual governo." Nem tudo piorou de lá para cá.