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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gkay: é ok questionar pressão estética, mas jamais chamar mulher de 'feia'

Organizadora da "Farofa da Gkay" já passou por pelo menos sete cirurgias plásticas - Instagram/@gessicakayane
Organizadora da 'Farofa da Gkay' já passou por pelo menos sete cirurgias plásticas Imagem: Instagram/@gessicakayane

Colunista de Universa

21/06/2022 04h00

É curioso. Mas em um momento em que o mundo todo fala sobre aceitação, corpo positivo e empoderamento, as cirurgias plásticas estão bombando. Mulheres nunca estiveram tão dispostas a se submeter a procedimentos invasivos, que alteram sua aparência e as colocam em risco.

Os números mostram isso. Segundo a Sociedade de Cirurgia Plástica e Estética, houve um aumento de 50% no número de plásticas em 2021 em relação ao ano anterior. Segundo especialistas, as redes sociais são, em parte, responsáveis por esse boom. Quanto mais nos vemos e nos comparamos com os outros, mais queremos mudar.

A humorista e influenciadora Gessica Kayane, a Gkay, de 29 anos, famosa pelo evento "farofa da Gkay", é cria dessa cultura das redes sociais, onde faz imenso sucesso. Ela tem quase 20 milhões de seguidores no Instagram e um engajamento incrível. Ou seja, ela ganha muito dinheiro com sua imagem e sua vida. Gkay, desde que surgiu, se submeteu a diversas cirurgias plásticas. Algumas foram mostradas por ela nas redes sociais, com direito a vídeos no hospital, mostrando sua recuperação e muitos antes e depois.

A facilidade com que Gkay e tantas outras influenciadoras falam sobre plásticas é preocupante. Quase todos os meses noticiamos aqui em Universa o caso de alguma mulher que foi vítima de procedimentos, já que no país campeão mundial em cirurgia plástica, muitos procedimentos são feitos de forma irresponsável. Esse é um assunto sério. Só que não é motivo para ataque a ninguém. Muito menos à aparência de mulheres. Se queremos questionar a pressão estética, precisamos parar de chamar mulheres de feias, não?

Mas, nos últimos dias, Gessica passou a ser atacada pesadamente na internet por conta de suas plásticas. De acordo com os comentários, ela teria "mudado", "virado outra pessoa" e "estaria feia", "horrível". Ou seja, sua aparência foi julgada sem dó. Absurdo.

Comentários sobre aparências de mulheres em redes sociais são extremamente danosos e ninguém devia fazê-los. Um comentário que alguém faz sem pensar pode tocar fundo, mexer em traumas.

Além de serem cruéis e machistas (na grande maioria dos casos quem são atacadas são as mulheres, não podemos esquecer) julgamentos sobre corpos deixam mulheres doentes do corpo e da alma.

Ser feia em paz

"Me deixa ser feia em paz", desabafou Gkay no sábado, enquanto sofria repetidos ataques.

Entendo totalmente o seu grito e ela tem razão. Não, Géssica não pode ser atacada dessa forma. Nenhuma mulher pode. A aparência dela é problema dela. Não somos juízes do corpo e do rosto de ninguém.

Mas, ao mesmo tempo, seria bom também que influenciadoras como ela pensassem sobre o quanto andam banalizando a plástica e divulgando a insatisfação com o corpo como estilo de vida.

E sim, dá para questionar cirurgias plásticas como fenômeno sem atacar mulheres. Mas a verdade é que, na internet (e na vida) tudo parece servir de desculpa para "tacar pedra em alguma Geni", como cantava Chico Buarque. É sempre assim.