Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Viúva de petista ajudou a impedir tragédia, mas ainda não foi reconhecida
No vídeo, capturado por uma câmera de segurança, a cena é clara: no último sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR), quando o policial penal Jorge Guaranho, bolsonarista, invadiu a festa de aniversário do militante petista Marcelo Arruda e o matou, uma mulher tentou impedir a tragédia.
A heroína é a policial civil Pamela Suellen Silva, 38 anos, viúva de Marcelo. Ela teve o sangue frio e a coragem de tentar impedir que o marido fosse morto. E também, segundo testemunhas e ela própria, que uma tragédia maior acontecesse. Já que o assassino teria dito que "ia matar todo mundo".
Em entrevista ao blog de Chico Alves, ela contou que, na primeira vez em que o assassino passou pela festa gritando, ela tentou conversar com ele e se identificou como policial.
"Nesse momento eu entrei na situação e me identifiquei como policial, mas não adiantou muito. Aí a mulher dele, que estava dentro do carro com o filho, pediu pelo amor de Deus que parasse", disse. Ou seja, duas mulheres tentaram impedir que uma tragédia acontecesse.
Quando ele voltou, armado e atirando, atingiu Arruda na perna e no abdômen. Foi então que ela empurrou o assassino e o marido, mesmo ferido, conseguiu revidar.
Arruda morreu na hora e Guaranho está internado em estado grave, sob custódia da polícia.
"Esse homem acabou com a minha vida, com a minha família, não sei o que passa na cabeça de uma pessoa dessas", disse, no dia seguinte à tragédia.
Pamela, mãe de dois filhos, entre eles um bebê de 40 dias, ainda não recebeu um telefonema que fosse do presidente da república, Jair Bolsonaro.
Ao invés de falar com ela, a equipe do presidente Jair Bolsonaro procurou os irmãos de Arruda, que são simpatizantes de Bolsonaro e que, segundo Pamela, não estavam na festa.
Em nova entrevista ao colunista Chico Alves, ela desabafou:
"Não imaginei que Bolsonaro chegasse ao ponto de deturpar a real história, dizer que o cara não foi por motivos políticos lá", lamentou. "Então, por que ele foi? Se a gente não conhecia ele, se a gente não sabia quem ele era? Ele tirou a vida do meu marido porque Marcelo era gordo, barrigudo? Óbvio que foi por motivo político."
Ela disse também que ela e o marido se davam bem com os irmãos, já que respeitavam diferenças políticas.
Ou seja, com a atitude de falar com os cunhados de Pamela e não com ela, a equipe do presidente ainda pode ter criado um desentendimento em uma família que passou por essa tragédia e precisa, no momento, ficar unida.
É curioso também que Bolsonaro, que gosta tanto de elogiar a bravura de policiais, tenha ignorado a atitude supercorajosa dessa policial civil.
O descaso, provavelmente, tem razão política, já que Pamela insiste que o crime foi político, é contra armas e não apoia o presidente.
Seria nobre se Bolsonaro deixasse esse ódio de lado e apoiasse uma trabalhadora, corajosa, viúva e mãe de dois filhos pequenos que foi vítima de um crime de ódio.
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