Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro investe em homofobia e pauta antiaborto para fidelizar radicais
Em janeiro de 2019, quando assumiu o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves disse uma frase que ficou famosa e ditou o tom da agenda de extrema-direita do governo Bolsonaro nas chamadas "pautas de costume". "Daqui para frente é assim, menina veste rosa! Menino veste azul!", gritou, em transe.
Agora, quase quatro anos depois, com a popularidade baixa e chances mínimas de ser reeleito, Jair Bolsonaro repetiu a pauta fundamentalista e homofóbica de Damares com metáforas parecidas: "O que nós queremos é que o Joãozinho seja Joãozinho a vida toda. A Mariazinha seja Maria a vida toda, que constituam família, que seu caráter não seja deturpado em sala de aula", disse ontem, em evento evangélico em Imperatriz, no Maranhão.
Que Bolsonaro é homofóbico todo mundo sabe. Foi ele que disse que "preferia morrer a ter um filho gay". "Se um casal vier morar perto da minha casa eles vão desvalorizar o imóvel", disse em 2011, em entrevista para a Playboy. Depois de já ser eleito presidente, ele falou, em 2019, que "o Brasil não pode virar o país do mundo gay. Temos famílias". E acrescentou: "Se você quiser vir fazer sexo com nossas mulheres, sinta-se à vontade", incentivando o turismo sexual, um problema seríssimo.
Mas, por que ele voltou a usar essa linguagem estilo Damares logo agora, quando está supermal nas pesquisas? Provavelmente para fidelizar sua base de eleitores ultraconservadores, que vibram com esses discursos homofóbicos e sexistas, concordam e repetem que a sociedade está sendo destruída por gays e feministas.
No discurso em Imperatriz, Bolsonaro investiu também na pauta antiaborto, coisa que tem feito nas últimas semanas. "O que alguns querem para o nosso Brasil? Querem aprovar o aborto como se fosse a extração de um dente. Dizem que isso é questão de saúde e não uma questão de acreditar que a vida começa na concepção", disse.
Isso também não é novidade. Ele tem apostado na radicalização
No fim de junho, quando o país estava chocado com a história de uma menina de 10 anos que engravidou depois de um estupro e foi assediada a ter o filho, passando por abusos de juízas e procuradoras e sendo afastada da mãe, Bolsonaro postou uma foto de um bebê e escreveu:
"Um bebê de SETE MESES de gestação, não se discute a forma que ele foi gerado, se está amparada ou não pela lei. É inadmissível falar em tirar a vida desse ser indefeso!"
Sim, ele disse que o fato de o aborto em caso de estupro e de risco à vida da mãe ser garantido pela lei não importa. Quem liga para a Constituição, não é mesmo?
Todos os analistas políticos repetem que Bolsonaro, para ter alguma chance de ganhar, precisa do voto das mulheres, que o rejeitam muito mais que os homens. Será que ele pensa que sendo homofóbico e antiaborto ele vai conseguir conquistar mais votos do eleitorado feminino? Duvido. Isso porque as mulheres que são "antiaborto", "antifeminismo" e que realmente acreditam que crianças aprendem na escola a "deixar de ser Joãozinho" já votam em Bolsonaro.
Mas ele aposta na narrativa antiga de que, sem ele, os "valores" da família serão abandonados, que crianças terão aula com mamadeira de piroca e esse tipo de fake news.
Nesse esforço, Bolsonaro está até aprendendo palavras novas.
No discurso "pela família" em Imperatriz, ele disse que no governo Lula houve tentativa de "desconstrução da heteronormatividade". Não, Bolsonaro, Infelizmente, isso não aconteceu. Os esquerdomachos estão aí para provar. De onde ele tirou esses termos modernos? Quem ensinou para ele? Seria até engraçado. Se não fosse trágico.
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