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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem noção: Balenciaga ignora críticas e lança saco de lixo de 14 mil reais

Bolsa inspirada em saco de lixo levantou debate nas redes sociais - Reprodução/Instagram
Bolsa inspirada em saco de lixo levantou debate nas redes sociais Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista de Universa

01/08/2022 16h09Atualizada em 02/08/2022 08h30

Em maio, a grife Balenciaga recebeu críticas no mundo todo (e nossa também) por lançar um tênis destruído que parecia ser inspirado em calçados usados por pessoas em situação de rua ou refugiados de guerra. Além de transformarem a pobreza extrema em item de consumo, eles foram além. O tal calçado foi lançado como item de luxo e custava cerca de 10 mil reais.

O truque de marketing de investir na "pobreza chique" deve estar dando certo. Uma prova: agora, eles lançaram um saco de lixo de luxo. Sim, a bolsa inspirada em um saco de lixo vem em três cores e custa US$ 2,7 mil, cerca de 14 mil reais. No Instagram da marca, o estilista Demna Gvasalia, escreveu: "Não podia deixar de perder a oportunidade de fazer o saco de lixo mais caro do mundo, já que todo mundo adora um escândalo fashion". Quem deve adorar mesmo é ele e os donos da grife, que lucram com isso.

A bolsa foi colocada à venda agora, mas apareceu pela primeira vez no desfile da marca, em março, em um show que foi super elogiado e claramente inspirado nos dramas dos refugiados de guerra.

A semana de desfiles aconteceu em meio à crise dos refugiados da Ucrânia. Os sacos carregados nos desfiles por celebridades e modelos eram inspirados nos sacos que refugiados e outras pessoas em situação de vulnerabilidade carregam seus pertences. O que não sabíamos é que eles iriam vender a peça. Mas, pensando bem, era óbvio.

A estratégia de causar está funcionando. E, pelo jeito, eles se acham tão acima do bem e do mal que ignoram todas as críticas que recebem sobre o absurdo que é pegar itens conectados com a pobreza extrema e transformar em "peça de desejo" para ricos. A arrogância em estado puro parece gritar: "somos ricos, não estamos nem aí".

O fato de o mundo estar correndo risco de uma recessão global e a pobreza ter aumentado no mundo todo parece não os abalar. Afinal, as crises aumentam as desigualdades. E a mania por "grifes" está em alta. Por isso, aposto que o saco de lixo "chique" vai vender.

Uma prova; a influenciadora GKay postou o tênis em suas redes há um mês, deixando claro que tinha comprado a peça. Na legenda, ela escreveu: "não sei o que pensar".

Nada contra GKay. Ela, como muitas pessoas ricas de sua geração, é da turma fanática por marcas e por compras. Na dúvida, se a marca lançou, eles compram. E se esses consumidores existem, a marca produz. Por que não?

O absurdo é tão grande que, no Twitter, muitos dizem que a marca está fazendo um experimento social para ver até onde os ricos caem nos seus truques.

Não acredito que seja isso. Em tempos de rede social, vale o "falem mal, mas falem de mim" e até discurso de ódio é usado para gerar engajamento por alguns.

E, pensem, o saco de lixo de luxo nem seria tão ruim se servisse para que os milionários passassem a, por exemplo, cuidar do próprio lixo. Mas, infelizmente, não deve ser o caso.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, 2,7 mil dólares é equivalente a cerca de 14 mil reais segundo a cotação desta terça-feira (2) do Banco Central

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL