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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Caso Manuela D'Ávila: ameaças contra mulheres não podem ser normalizadas

Manuela D"Ávila.  - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Manuela D'Ávila. Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Colunista de Universa

02/08/2022 16h33

A ex-deputada federal pelo PCdoB Manuela D' Avila não disputará as eleições deste ano. Essa foi uma decisão tomada por ela e, entre os motivos, estão a sua preocupação com o clima de ódio e ameaças contra ela e sua família. Isso não é "exagero" de Manuela. A ativista de 40 anos, mãe de Laura, de 7, é uma das mulheres mais ameaçadas, atacadas e vítima de fake news da cena política brasileira.

Mas não concorrer não foi o suficiente para que Manuela e sua família tenham paz. Na segunda-feira (1), ela expôs uma ameaça que recebeu pelas redes sociais. Na mensagem, um desconhecido diz que vai estuprá-la, fazer o mesmo com sua filha (uma criança de 7 anos!!) e matar Manuela e sua mãe. O horror.

Ao expor as ameaças, ela comentou: "Ser mulher pública é ouvir de muitos que não aguentariam nem metade, que tá tudo bem, que é assim mesmo. Como se fosse o preço a pagar por estar num lugar que não é o nosso, que não é pra nós."

Ela tem toda razão. Essas ameaças não são "brincadeira", são crimes que precisam ser investigados com seriedade e os responsáveis por elas precisam ser punidos. Além disso, claro, Manuela e sua família precisam de proteção do estado.

E não, Manuela, não está tudo bem e não é "assim mesmo".

No mesmo dia em que Manuela fez essa denúncia, a vereadora Duda Salabert, do PDT de Belo Horizonte, também expôs ameaças que recebeu, vindas de um grupo neonazista. Na mensagem, o criminoso (ameaça é crime, não podemos esquecer) diz que "vai usar uma barra de aço" para atacar Duda, uma mulher trans, que, na mensagem, é chamada de "aberração".

Não podemos achar normal que mulheres públicas tenham que conviver com esse tipo de violência. Isso não é algo que "faça parte" do trabalho de uma ativista ou de qualquer pessoa. E não, não é normal que mulheres (as principais vítimas da violência política e ameaças online) sofram essas tentativas de silenciamento e tenham que "aprender" a conviver com isso.

Ninguém tem que viver sendo vítima de mentiras e ameaças de morte. Isso não pode ser rotina na vida de mulheres como Manuela, Duda ou qualquer outra, independente do espectro político.

O que precisa acabar é o ódio contra mulheres e as tentativas de silenciá-las.

Médica austríaca

E não, isso não acontece só no Brasil. No fim de semana, a médica austríaca Lisa-Maria Kellermeyer se suicidou depois de passar meses recebendo ameaças de morte e ataques por ser uma defensora da vacina e das medidas de contenção da pandemia do Coronavírus. Ela teria pedido ajuda à polícia, que não teria levado as ameaças a sério.

A história da médica mostra uma série de absurdos. Uma delas é o fato de seus pedidos de proteção não terem sido ouvidos. É provável que as autoridades austríacas tenham achado que ela "exagerava".

Esse não pode ser o destino de mais mulheres. Todo esse ódio precisa ser contido. E quando mulheres relatam ameaças, elas precisam ser levadas a sério. Não está tudo bem.

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.