Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Gabriel Monteiro: candidatura em meio a novas denuncias é retrato do Brasil
O homem começa a ter relação sexual com uma mulher. Ele se torna violento. A mulher pede para ele parar. Ao invés de obedecer, ele pega uma arma e aponta pela sua cabeça e estupra a mulher sem camisinha (outra forma de estupro). Não para por aí. Ele pega uma câmera e começa a gravar a mulher sem sua autorização. O horror.
O homem acusado de praticar esses crimes é o vereador Gabriel Monteiro (PL), o mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro. A denúncia foi feita ontem no "Fantástico" e pertence ao depoimento que uma das quatro mulheres que acusam o vereador de estupro. Luísa Caroline Bezerra Batista, que trabalhou por sete meses ao lado do vereador declarou em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro que uma menor de idade filmada em ato sexual com o parlamentar era recebida na casa dele ao som da "Galinha Pintadinha", personagem musical infantil. O UOL teve acesso aos depoimentos dos ex-funcionários que acusam o vereador.
Gabriel é acusado de assédio sexual, sexo com menores de idade, assédio moral e estupro. O processo de sua cassação foi votado pelo Conselho de Ética da Câmara do Rio que decidiu, por unanimidade (7 votos a 0), aprovar o texto do relator Chico Alencar (PSOL-RJ), que determina a cassação do mandato de Gabriel Monteiro por quebra de decoro parlamentar. A decisão deverá ser submetida ao plenário para análise e votação nesta nesta terça-feira (16).
Mas Gabriel ainda não foi expulso do seu partido, o mesmo do presidente Bolsonaro, aquele que tanto fala em resgatar os valores da "família" e em "moral", assim como penas severas aos estupradores.
A candidatura a deputado federal de Monteiro foi confirmada pelo PL no fim de julho, quando todas as denúncias já eram conhecidas e ele já era investigado pelo Comitê de Ética da Câmara dos Vereadores. Se o partido de Bolsonaro fosse civilizado, Gabriel já teria sido obrigado a renunciar e teria sido expulso.
Pelo que tudo indica, Gabriel deve ser cassado. Mas, mesmo assim, há uma brecha na lei que permite que ele possa ser candidato a deputado federal. Semana passada, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Rio de Janeiro recebeu um pedido de impugnação da candidatura pelo candidato a deputado estadual André Barros, do PSOL. É o mínimo.
Mas, até o fim de julho, o PL contava com Gabriel Monteiro não só como candidato, mas como um grande impulsionador de votos para o presidente Jair Bolsonaro. A expectativa era que ele recebesse cerca de 200 mil votos.
País do ex-goleiro Bruno
Não seria tão surpreendente que isso acontecesse. Afinal, o assassino Guilherme de Pádua, agora pastor, ganha seguidores depois de uma série, "Pacto Brutal", trazer de volta os horrores do assassinato de Daniela Perez. O ex-goleiro Bruno, condenado por matar Eliza Samudio e jogar seus ossos para um cachorro, tem fãs e faz publicidade no Instagram.
O ódio às mulheres é naturalizado por parte dos brasileiros e, por mais esquisito que isso seja, muitas vezes esses são aqueles a gritar que não toleram bandidos e que apoiam a "castração química".
Talvez isso aconteça porque o ódio aos assassinos e estupradores seja só da boca pra fora. Ou vai ver, muitos ainda acreditam que se uma garota passou por isso, é porque ela mereceu ou provocou.
Tratar mulheres como lixo é uma prática aceita. E é possível que, em rodas de amigos, alguns poderosos como ele, Gabriel tenha dito que "uma novinha deu trabalho".
Esse depoimento do "Fantástico" conta fatos que aconteceram em 2017. Ex-funcionários e funcionários do gabinete de Gabriel relatam rotinas de abusos. Não é possível que alguns aliados políticos não soubessem de nada. Sempre que acontecem abusos em séries, é porque muita gente se calou. Infelizmente.
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