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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mulher séria não dança? Finlandesas apoiam 1ª ministra após vídeo vazado

Sanna Marin foi envolvida em uma polêmica após vazarem vídeos dela dançando em uma festa - Ludovic Marin/Pool via Reuters
Sanna Marin foi envolvida em uma polêmica após vazarem vídeos dela dançando em uma festa Imagem: Ludovic Marin/Pool via Reuters

Colunista de Universa

22/08/2022 11h34

Nos últimos dias, a primeira-ministra da Finlândia está envolvida em um escândalo e seu governo vive dias difíceis. Não, ela não está envolvida em casos de corrupção e não atrasou a compra de vacinas contra o coronavírus. Sanna Marin, de 36 anos, do partido social democrata, está sendo criticada por... dançar em uma festa.

É sério. Em vídeos que vazaram última semana, Sanna é vista fazendo coreografias engraçadas em uma festa com amigos. Os vídeos duram poucos minutos. Ela não está nua, não está dando declarações polêmicas, nada disso. Ela está dançando e se divertindo. Uma coisa normal, que qualquer pessoa, ainda mais jovem como ela, faz.

Qual o problema? Ela é mulher e primeira-ministra. E, como se sabe, mulheres na política, e também em outras situações de poder, são criticadas por qualquer coisa. Se são muito sérias, são "frias" (vide Angela Merkel), se são firmes, são "histéricas" (vide Dilma Rousseff).

No caso de Sanna, a oposição aproveitou para falar que ela estaria usando drogas e que seu comportamento não seria adequado em um momento em que há uma guerra em um país vizinho à Finlândia (a Ucrânia) uma crise abastecimento de gás, o que leva a inflação.

Mas, quem disse que Sanna não tem feito o seu trabalho? Ela tem sim.

A Finlândia, que já começou o processo de entrada para Otan - o que era uma demanda antiga do país. Sanna enfrenta Putin. Negocia com Zelensky e outros líderes europeus. Por que ela não poderia, depois do trabalho, festejar com os amigos?

Seria um problema se elas estivessem em um lugar luxuoso gastando dinheiro público, mas não foi o caso.

De lá para cá, Sanna teve que se submeter a um exame toxicológico, já que muitos espalharam que ela estaria drogada. E se explicar. Mas não, ela não está pedindo desculpas (ainda bem), mas sim falando com firmeza. Em uma entrevista, ela disse:

"Esses vídeos eram privados e não deviam ter sido vazados. Mas eu passei uma noite com seus amigos. A gente apenas festejou. Eu me diverti e dancei. Eu pertenço a uma geração que usa muita mídia social. E, apesar de ser primeira-ministra, eu ainda sou uma pessoa e não vou mudar meu comportamento", disse, com firmeza.

Danças de solidariedade

A reação está sendo bonita. Apesar da crise causada, Sanna tem recebido solidariedade de mulheres de toda a Europa, que têm postado vídeos dançando e usando a TAG #solidaritywithsanna. Políticas também estão entrando na trend.

Afinal, uma mulher não tem direito a ter uma vida privada quando ela é uma chefe de estado? Uma moça em posição de poder não pode ser super séria no trabalho e na sua vida pessoal se divertir? Mulher séria não dança?

Dança sim. O que precisa mudar é essa patrulha em cima das mulheres que fazem política (ainda somos minoria, mas não pretendemos parar).

Quando disputou as eleições, em 2019, Sanna já teve que provar que era séria por ser muito jovem e bonita. Sim, até isso pode contar pontos negativos para uma mulher na política. Já que, "se é bonita, é burra". Candidatos homens, quando bonitos, costumam ganhar votos e confiança.

Mulheres como Sanna vieram provar que isso não tem nada a ver e mudar as estruturas. Já era hora.