Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mesmo deixada de lado, Renata brilha em entrevista com Bolsonaro
"Pandemia. Nos momentos mais dramáticos, o senhor imitou pacientes de covid com falta de ar. Sobre as mortes, o senhor disse: 'E daí, eu não sou coveiro". O senhor estimulou o uso e usou dinheiro público para comprar medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid. O senhor desestimulou a vacinação. O senhor não teme ser responsabilizado, se não pelos eleitores, pela história?"
Esse texto, dito com calma e firmeza pela apresentadora Renata Vasconcellos na entrevista de Jair Bolsonaro para o Jornal Nacional, também pode entrar para a história.
Isso porque a jornalista fez, em poucos minutos, um resumo do comportamento absurdo do presidente durante a pandemia e fez a pergunta que muitos de nós gostaríamos de fazer.
Ao deixar subentendido que a história julga, Renata lavou a alma de muitos de nós que perdemos familiares durante a pandemia enquanto o presidente do país imitava pacientes com falta de ar.
Ele negou mas o vídeo abaixo comprova:
Renata brilhou e recebeu aplausos na internet, onde sua fala viralizou. Mas a entrevista não deve ter sido fácil para ela. A jornalista passou boa parte do tempo sendo ignorada pelo presidente e por seu companheiro de bancada William Bonner.
Sua participação só começou quando já havia quase dez minutos de entrevista e, em boa parte do tempo, Renata ficou de lado enquanto os dois falavam. Dois homens falando e uma mulher escutando é um formato antigo e machista, que combina bem com Bolsonaro, mas que a maioria das mulheres não está mais disposta a tolerar.
Interrupções e mansplaining
Nas horas em que falou, Renata foi interrompida e teve que aturar o tom autoritário do presidente, que costuma ser mais agressivo quando quem o questiona é uma mulher (os gritos de Bolsonaro com jornalistas mulheres são facilmente encontrados na Internet).
Além disso, ela teve que aguentar uma tentativa de "mansplaining". Sim, a jornalista teve que ouvir uma explicação sobre "literatura" de um homem que se orgulha de ser "bronco"
"O senhor chegou a dizer que tinha medo de virar jacaré", disse Renata.
"Eu usei uma figura de linguagem", respondeu Bolsonaro.
"Mas o senhor acha que isso é brincadeira?"
"Não, não é brincadeira! (tom agressivo).Usei uma figura de linguagem, que é parte da "literatura brasileira", respondeu.
Renata não se abalou e fez outra pergunta que muitos gostariam de fazer. "Sobre o seu comportamento, muitos viram isso como falta de compaixão e solidariedade. O senhor se arrepende? Ele fugiu da resposta e mudou de assunto.
Imagina se um presidente como Jair Bolsonaro falaria que se arrepende, principalmente para uma mulher? Ela insistiu, mas, pelo jeito, ele não se arrepende mesmo.
Será que, como diria Renata, ele será perdoado pela história?
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