Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Leão Serva mostra que homens podem ajudar mulheres na luta contra misoginia
A cena é a que mais circula hoje nas redes sociais. Nela, a jornalista Vera Magalhães é intimidada pelo deputado Douglas Garcia, do Partido Republicanos, aliado de Bolsonaro, Com celular em punho, ele passou a coagir e ofender a jornalista, em meio aos presente no Memorial da América Latina, em São Paulo, onde aconteceu ontem o debate para governadores organizado pelo UOL/ Folha e Cultura. Vera pede que ele pare. Ele insiste. Até que o jornalista Leão Serva, diretor da TV Cultura, intervém. Ele tira o celular da mão de Douglas e o joga longe, enquanto grita palavrões.
Nas redes sociais, Leão é tratado como uma espécie de herói. Sou uma dessas pessoas que aplaude de pé a atitude do colega. Não, não somos a favor da violência. Mas ele claramente reagiu. Deu um basta e assim protegeu a colega, que era assediada moralmente em seu local de trabalho.
Leão deu uma boa aula para os outros homens que querem ser aliados das mulheres contra a misoginia. Sim, você que vive por aí falando que "está junto na causa", que "quer nos ajudar" pode aprender com ele. Nessas horas, imagino alguém vai perguntar: "Mas vocês, feministas, estão falando que precisam de homem?"
Como todos, precisamos de aliados, sim. E, no caso de misóginos como Douglas Garcia e sua gangue de odiadores de mulheres, eles simplesmente não nos ouvem ou respeitam. Eles nos desprezam. Quando é um homem falando e dando real, o comportamento deles pode ser outro.
Ao ver a cena, horrível, além de sentir muita raiva ao ver uma colega passando por isso (toda semana uma jornalista é atacada!), fiquei chocada ao ver várias pessoas (na maioria homens) vendo Vera ser constrangida e não fazendo nada. Não podemos nos abster de nos defender nos tempos atuais.
Nós, mulheres, sabemos disso, já que na maioria das vezes em que sofremos ataques misóginos "é nós por nós". Somos nós que defendemos umas às outras.
Claro que muitos homens nos entendem e são solidários. Mas também há aqueles que "desconfiam" quando relatamos os ataques que sofremos. Para muitos, o fato de sermos atacadas nas redes sociais, por exemplo, algo que acontece com várias mulheres que têm voz, eu incluída, é algo "menor", ou exagero, ou mesmo "drama" (nada mais machista do que achar que toda mulher ou todo gay é "dramático").
Outro dia mesmo, discuti com amigos progressistas que, ao ver um vídeo onde Gabriela Prioli denunciava ataques que passou a sofrer depois de ser citada no perfil do presidente Jair Bolsonaro, acharam que ela estava "exagerando".
Não, amigos, não é exagero nosso. E infelizmente o que aconteceu com Vera Magalhães (e anteriormente com pessoas como a filósofa Márcia Tiburi e o então deputado Jean Wyllys, que receberam tantas ameaças que tiveram que deixar o país) prova como funciona o tal gabinete do ódio. O presidente (ou algum dos seus filhos) desrespeita alguém, que em geral é uma mulher. Em seguida, essa profissional passa a sofrer ataques em massa nas redes sociais. E, em alguns casos, esses ataques podem sair da internet e ir para a vida "real". Foi o que aconteceu com Vera.
Então, se vocês realmente querem ser nossos aliados, não é tão difícil. Basta nos escutar e levar a sério quando denunciamos denúncias e, em alguns casos, nos ajudar a nos livrar de misóginos que tentam constranger mulheres e assim as calar. Obrigada, Leão Serva.
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