Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O que nós, brancos, podemos aprender com o caso de racismo de Luísa Sonza
"Você pode pegar um copo de água para mim?" A cantora Luiza Sonsa estava em uma pousada em Fernando de Noronha em 2018 quando cutucou uma mulher que também estava lá e fez esse pedido aparentemente "simples".
Só que a moça não era empregada da pousada, mas uma hóspede, assim como Luísa. E, claro, ela era negra. Falo isso porque é comum que nós, brancos, façamos essa "confusão", vamos admitir. E sim, quando fazemos isso, somos racistas. E racismo é crime.
Prova disso é que Luísa foi processada por danos morais pela vítima, a advogada Isabel Macedo de Jesus, que comemorava seu aniversário na pousada. Em nota divulgada na segunda-feira (19), a cantora disse que "aprendeu com o episódio" e que espera uma audiência "amigável" —o que a vítima pode não querer, claro. Como assim, você é acusada de racismo e acha que dá para resolver tudo de boa?
Fato interessante. Em 2020, Luísa negou que tenha sido racista. "Jamais teria essa atitude","essa acusação é ridícula." É mentira", disse. Sabe o que é pior? Eu acredito que, no primeiro momento, Luísa, dentro do seu narcisismo, nem tenha percebido a gravidade do que fez. E não falo isso para passar pano para ela, muito pelo contrário. O que quero dizer é que a maioria de nós, brancos, já cometeu atos racistas parecidos com esse. E não estamos imunes a praticá-los.
Isso não quer dizer que esse tipo de racismo do dia a dia seja menor ou deva ser tolerado. De forma alguma. Nós, brancos, temos que aprender e parar de agir assim.
Ou vai dizer que vocês nunca viram algo similar acontecer?
Eu sim. Uma vez estava com uma tia em um hospital e ela achou que a mulher negra que nos atendeu fosse a enfermeira e não a médica. Minha tia ainda perguntou para a doutora quando o médico viria. Racismo puro. Na hora, para quem é branco, pode até parecer algo pequeno. Mas tem aquele ditado: "quem bate esquece, quem apanha jamais".
Isabel, a advogada que processou Luísa, foi agredida e não esqueceu. E mais, como é advogada, ela sabe muito bem o quanto esse tipo de processo é importante, pois pode nos educar (falo de nós, brancos) e abrir precedente para que outras pessoas negras vítimas desse racismo tão incrustado na sociedade possam se defender.
Não vale tratar mal empregada
A advogada está certa. Nós, brancos, precisamos urgentemente parar de ser escravocratas e racistas. "Ah, mas eu não sou racista", repetimos. E muitas de nós continuam pedindo copos de água para pessoas negras.
E mais: nesse caso, me desculpe, Luísa, mas não acho ok cutucar uma pessoa e sair falando: "Você pode me trazer um copo de água?" de maneira ríspida até mesmo se você estivesse falando com a empregada da pousada. Não devemos tratar nenhum trabalhador de forma seca e bem, você pode conseguir um copo de água sem que alguém "te sirva", não?
Dito isso, tomara que Luísa de fato aprenda com o ocorrido. E que todos nós, brancos, também aprendamos.
Por último e não menos importante, mais uma coisa que precisamos aprender: pedir desculpas quando somos racistas, coisa que Luísa, como lembrou o jornalista Guilherme Lúcio, não fez. Custava?
Que fique a lição para todos nós. Se você for racista, o MÍNIMO que você tem que fazer é se desculpar.
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