Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Machismo de Milton Neves mostra que alta de futebol feminino incomoda
Há décadas mulheres jogadoras de futebol lutam para profissionalizar o esporte, para terem tratamento parecido com os homens. Essa modalidade, assim como vários outras femininas, foi considerada por anos esportes menores (e ainda são), onde homens iam apenas para olhar peitos e bundas — e, aparentemente, isso ainda acontece.
A prova de que essas ideias machistas e antigas, combatidas todos os dias, ainda estão presentes: na tarde desta terça-feira, o famoso comentarista Milton Neves postou no Twitter um clipe de mulher jogando futebol comemorando uma jogada. Na publicação, Milton perguntava para o público qual era o número que a jogadora usava nas costas, porém, antes de aparecer a pergunta, o vídeo mostrava a mulher comemorando e pulando de costas, em câmera lenta, mostrando o bumbum balançando. Rapidamente o nome do comentarista subiu para primeiro lugar na rede social.
A saber: a jogadora em questão é a suíça Alisha Lehmann, atacante do time Aston Villa e que defende a seleção da Suíça desde 2017. Curiosidade: a jogadora namora desde novembro de 2021 o brasileiro Douglas Luiz, de 24 anos, que é seu companheiro de clube. Douglas, inclusive, fez post rebatendo Neves, em defesa da namorada.
Basicamente, isso é tudo contra o que esportistas lutam contra no momento, a objetificação. No Twitter, após a publicação do vídeo, Milton recebeu muitas críticas. Grande parte delas o chamava de "velho". Acho desnecessário. Não é a idade que faz alguém ter um comportamento machista ridículo. Claro, Milton é de outra geração, de um tempo onde fazer piadinhas sexistas não era considerado nada demais. Só que quem está vivo pode e deve aprender.
Após a repercussão negativa, Neves apagou o tuíte. Mas nem todos os comentários foram de crítica. Um me chamou atenção: um sujeito comentou que Milton, com seu post machista, estaria "salvando a masculinidade". Risos. Tadinha da masculinidade, ela é tão frágil que precisa de uma publicação besta no Twitter para salvá-la. Segundo o autor da pérola, "homens olharem para a bunda de mulheres é algo natural". Ah, sim, homens são animais condicionados e sem livre arbítrio. Eles precisam olhar para bundas para sobreviver. Só que não.
O machismo e esses hábitos são culturais. E essa é a cultura que várias jogadoras mundo a fora tentam mudar.
E tem funcionado. O futebol feminino nunca fez tanto sucesso. A final do Brasileirão feminino de 2022, disputada pelo Corinthians e pelo Internacional no último fim de semana, teve recorde de público: mais de 40 mil torcedores assistiam a partida no estádio Neo Química Arena, em São Paulo. A partida teve até transmissão aberta. Algo impensável anos atrás.
A revolução dos campos não acontece só no Brasil, mas no mundo todo. Em julho e agosto, o futebol feminino bateu recordes de público na Europa. A final da Eurocopa entrou para a história da ESPN como a maior audiência conquistada na transmissão de uma partida de futebol feminino. Se Milton Neves não sabe disso? Sabe, com certeza. Mas, para certos homens, ser machista é uma espécie de tradição a ser mantida.
As jogadoras, depois de tantos anos jogando sem ninguém prestar atenção ou levar a sério não merecem isso. Acordem, Milton Neves e todos os homens que ainda pensam que essa é a maneira normal de um "macho" assistir ao futebol feminino. Ou, vai ver, eles não suportam ver mulheres brilhando nos campos. Afinal, futebol ainda é "coisa de homem". Mas as coisas mudaram. Aceitem.
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