Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Novo filme sobre Marilyn Monroe insiste no clichê da loira burra e triste
Um filme sobre a vida de Marilyn Monroe, uma das mulheres mais mitológicas da cultura pop, com megaprodução da Netflix, encenada por uma ótima nova atriz sensação, a cubana Ana de Armas, parece a receita de um sucesso certo. E até é. "Blonde", que estreou no Netflix na quarta-feira, já está no top 10 do streaming. Só que o filme também tem recebido críticas péssimas.
Há quem fale que a obra é sádica, que o diretor, Andrew Dominik, coloca cenas gratuitas de sexo e nudez só para faturar. Todas essas críticas fazem sentido.
E tem mais que isso, "Blonde" é um filme extremamente pretensioso. Antes de lançá-lo, o diretor prometeu uma bomba, uma grande polêmica. Em vez disso, entregou uma obra que tenta ser artística, mas parece forçada o tempo todo, além de confusa e cheia de pontos problemáticos.
Por exemplo: vários comportamentos que na verdade são tristes e desesperadores são mostrados com roupagem "chique". Em uma cena de violência doméstica, a atriz (excelente) está de calcinha, sem sutiã, mas parecendo a modelo de uma propaganda de perfume. O mesmo acontece na cena final, da morte da atriz. Marilyn morreu de overdose em 1962. E não há nada de bonito ou glamouroso nisso.
Um dos maiores traumas da vida de Marilyn, o aborto espontâneo que sofreu, também é exibido de maneira problemática. Antes do aborto, o feto "fala com ela". Depois da perda, o filme mostra Marilyn em uma espiral de drogas. Fica até parecendo que o aborto foi culpa da atriz. E não foi: ela sofria de endometriose.
A Marilyn do filme também é bobinha, uma "loira burra" (esse estereótipo horrível que deve ser combatido). Na vida real, a atriz não era burra. Era uma mulher atormentada, mas inteligente e muito talentosa.
Além disso tudo, o filme não é uma história exatamente real. Ele é baseado em uma biografia romantizada da vida da atriz, escrita por Joyce Carol Oates. Quem quiser saber sobre a vida da atriz e diva fascinante ganha mais se procurar uma das dezenas de documentários que já foram feitos sobre ela.
Então quer dizer que nada presta no filme? Não. E a obra pode mesmo fazer sucesso. Isso porque a história da atriz, mesmo mal contada, é fascinante. E, claro, o trabalho de Ana de Armas é impecável.
No fim, são duas mulheres que seguram a onda do filme, por mais que um diretor homem tente destruir a história dela. As duas atrizes merecem, sim, serem aclamadas. Pena que o filme tão esperado do Netflix não faz justiça a elas. Nesse ponto, a história da Marilyn sendo desrespeitada pela indústria se repete. Triste.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.