Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Com manobra política, Gabriel Monteiro, acusado de estupro, segue no poder
Assédio moral, assédio sexual, pedofilia e estupro. Essas são algumas das denúncias que foram feitas desde o início do ano contra o vereador e youtuber Gabriel Monteiro. Alguns relatos de vítimas e da comissão que o investigou na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro são chocantes: eles tiveram acesso a vídeos onde ele beijava menores de idade no pescoço e as acariciava. As denúncias passaram a ser investigadas pelo Ministério Público e Gabriel virou réu. Tudo isso, para alívio de qualquer pessoa que preza pelos direitos das crianças e das mulheres, foi o suficiente para que Gabriel perdesse seu mandato em agosto e que seu pedido para ser candidato a deputado fosse indeferido. Era o mínimo.
Mas o absurdo não tem limites. Impedido de se candidatar, Gabriel colocou seu pai, Roberto Monteiro, para ser seu substituto na candidatura a deputado federal. Ele foi eleito. Além de Roberto, a irmã de Gabriel, Giselle Monteiro, foi eleita deputada estadual.
Não teria nada de errado se isso fosse apenas uma coincidência e se Gabriel não tivesse tomado conta das duas candidaturas e deixado claro que a família vai trabalhar "junta". Ou seja, ele continua no poder.
Na foto de campanha dos candidatos da família, Gabriel aparece no meio deles, como se fosse um mestre ou mentor do trio. Em seu Instagram, ele postou a imagem com a frase: "um dia voltarei! Enquanto isso, eles fiscalizarão tudo aquilo que os outros políticos não fiscalizavam!". Durante a campanha, ele fez questão de deixar claro que eles eram um time e que trabalhavam juntos.
Parece até piada de mau gosto. Mas é sério e uma prova de que o "Sanatório Geral", como diria Chico Buarque, realmente se instalou nas eleições de 2022 no Brasil.
Em qualquer país sério, Gabriel teria sido banido completamente da vida política. E, claro, sua imagem não seria usada como "chama voto". Afinal, quem vota em alguém tutelado por um homem acusado de estupro e abuso de menores?
Se não vivêssemos tempos insanos, a irmã de Gabriel, por exemplo, poderia sim ser candidata. Mas ela teria que explicar o tempo todo para os eleitores e se distanciar ao máximo da imagem do irmão.
E o absurdo continua. Gabriel agradeceu a Deus pela vitória dos dois e o partido da família, o PL é mesmo do presidente Jair Bolsonaro.
Entre as pautas do partido, estão os valores da "família" e a defesa das crianças. Mas acusações de estupro e pedofilia, no caso de Gabriel, que atrai muitos votos por causa do sucesso do seu canal no YouTube, pelo jeito está liberado. Insano.