Topo

Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Thiago Brennand mistura delírio misógino com certeza de impunidade

Thiago Brennand - Reprodução/Facebook
Thiago Brennand Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista de Universa

11/10/2022 15h34

Em setembro, uma imagem viralizou e causou pavor. Nela, um homem espancava uma mulher em uma academia de ginástica. O agressor era o empresário Thiago Brennand, e a vítima, a modelo Alliny Helena Gomes. Logo se soube que esse não era o primeiro ato de ódio contra as mulheres praticado por ele. Outras denúncias surgiram. Hoje, sabemos que o empresário é acusado de violência sexual contra no mínimo 11 mulheres.

Thiago viajou para Dubai no dia 14 de setembro, horas antes de ser denunciado pelo Ministério Público. No dia 27 de setembro, sua prisão foi decretada. Mas ele não retornou. Desde então, passou a ser considerado um foragido da justiça.

Em uma situação dessas, Tiago poderia, como acontece na maioria de casos semelhantes, escrever uma nota alegando arrependimento.

Mas ele fez o contrário. E mostrando ser um homem perigoso, que manifesta um delírio misógino, gravou uma série de vídeos, que foram publicados no último domingo. Ele afirma que não é foragido e que existe um "estado de exceção" (como se ele fosse algum perseguido político).

A parte mais chocante de todos os absurdos que ele fala é a sua certeza de impunidade: "Vocês mexeram com a pessoa errada. Vocês morrem de inveja. Sou branco, heterossexual inegociável, armamentista e conservador."

Ao elencar essas características, ele parece querer dizer que os outros (o Ministério Público? As mulheres que o denunciam? Os jornalistas?) têm inveja do seu "privilégio" e ainda os ameaça.

Brennand, que é de uma família tradicional e rica e recebeu a herança da família antecipada com condição de não se aproximar dos parentes, parece certo da impunidade.

Nesse ponto, ele não está totalmente equivocado, homens brancos, heterossexuais e ricos como ele costumam mesmo se dar bem.

Mas até para isso há limites. Ele é acusado de crimes sérios. A justiça dificilmente vai "deixar para lá" - espero. Principalmente porque, no caso da agressão à modelo na academia, as imagens são claríssimas e foram vistas por milhares de pessoas. É impossível, nesse caso, falar que a mulher "inventou" ou "exagerou" (clichês que são usados com frequência para tirar a credibilidade de denúncias feitas por mulheres).

O resto do discurso de Brennand mistura comunismo, perseguição de mulheres e fim do mundo. Ele chegou a afirmar que a maioria das denúncias de estupro no Brasil é falsa, o que é uma mentira séria.

O que existe é uma subnotificação de casos, já que não são todas as mulheres que têm coragem ou condições de denunciar. A própria ideia do que é estupro ainda é confusa. Muitas mulheres não sabem, por exemplo, que se seus maridos forçarem o sexo, isso é claramente um estupro.

Thiago não é vítima de conspiração alguma. Ele é investigado pela polícia por crimes e está foragido. Ser branco e conservador não muda esse fato. Ele vai ter, sim, que responder à justiça. A outra opção é tentar se esconder mundo afora como um fugitivo. Aceita.