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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Prisão de Brennand dá esperança de que brancos e ricos paguem por abusos

Colunista de Universa

14/10/2022 11h37

"Vocês mexeram com a pessoa errada, branco, hétero, armamentista e conservador." A ameaça foi feita pelo empresário Thiago Brennand em um vídeo no começo dessa semana. Acusado de diversos crimes sexuais e de agredir uma mulher em uma academia de ginástica em São Paulo, Thiago foi preso na manhã de hoje pela Interpol em Abu Dhabi, para onde tinha fugido.

Essa é uma excelente notícia. Não é todo dia que vemos alguém com todos os privilégios elencados por ele, e com certeza da impunidade, ser preso. Thiago tinha certeza que o dinheiro, contatos com pessoas importantes e todo o pacote de meios para corromper o sistema a que homens como ele têm acesso seriam o suficiente para que ele escapasse. No mesmo vídeo, ele disse que não era um fugitivo, mas sim vítima de uma conspiração. Ele disse ainda que tinha várias opções de países para onde ir. Claro, rico, achou que poderia se esconder em algum território onde milionários se protegem. Perdeu.

Essa não é uma boa notícia apenas porque as vítimas de Thiago, que é acusado por pelo menos 15 mulheres de crimes sexuais e agressões (ele chegou a forçar mulheres a tatuarem suas iniciais), não verão seu abusador passeando impune pelo mundo. Mas também porque dá esperança de que outros sujeitos como ele, acusados de abusos que têm certeza da impunidade (são vários) não vão se safar de seus crimes e ainda desfrutar de fama.

Os exemplos de casos onde isso acontece são vários, mas é só lembrar que o ex-goleiro Bruno, por exemplo, condenado pela morte de Eliza Samudio, tem fãs no Instagram e patrocinadores. Ou que Saul Klein, herdeiro das Casas Bahia, indiciado por estupro e estupro de vulnerável, teve pedidos de prisão preventiva negada e continua livre, tendo direito a todos os privilégios. Seu pai, Samuel Klein, acusado dos mesmos crimes, morreu sem pagar pelos seus crimes.

Diminuir os crimes de abuso sexual e abuso de menores não é tarefa fácil para a sociedade. Mas começar a fazer os abusadores (mesmo os "brancos, ricos, héteros e conservadores'') pagarem pelos seus crimes é um bom começo.

Isso pode prevenir outros "homens de bem" de praticarem abusos em sequência, com a certeza de que nunca serão punidos. E que, no pior dos casos, podem pegar um avião e fugir para Abu Dhabi.