Topo

Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Nova Amber Heard': Angelina sofre com misoginia em disputa com Brad Pitt

Angelina Jolie e Brad Pitt - Reprodução / Internet
Angelina Jolie e Brad Pitt Imagem: Reprodução / Internet

Colunista de Universa

14/10/2022 04h00

Angelina Jolie e Brad Pitt se separaram há seis anos, mas a batalha judicial entre os dois está longe de terminar. Pelo contrário, nas últimas semanas, mais detalhes sobre a separação do casal vieram à tona. Essa semana, um e-mail comovente escrito por Jolie foi "vazado" nas redes sociais. Ali, ela diz que "o álcool destruiu sua família" e que não aprovava as atitudes de Pitt. O e-mail é dela mesmo, a veracidade foi confirmada.

Semana passada, as revelações foram mais chocantes. Veículos da mídia americana tiveram detalhes sobre o processo do casal que corre na justiça. Mais precisamente à parte onde a equipe de defesa de Angelina afirma que ele a agrediu no famoso incidente em um avião que culminou na separação dos dois. Brad teria batido a cabeça de Angelina na parede. Eles afirmam que filhos do casal também teriam sido agredidos.

Pitt teria reagido furioso ao vazamento das informações e acusado Angelina de "querer destruí-lo".

Os dois brigam judicialmente por causa de uma propriedade que compraram juntos no sul da França, uma vinícola. O ator acusa a ex-mulher de vender "em segredo" parte da propriedade. Segundo ele, a venda foi realizada para "infligir danos a ele" e teria sido uma "vingança".

Muitos temem (e outros torcem) que a batalha jurídica entre os dois vire uma espécie de segunda temporada do julgamento de Amber Heard e Johnny Depp. Há até rumores de que Pitt teria contratado o mesmo relações públicas de Depp. Isso seria péssimo, já que aquela baixaria que em junho parecia ficção, mas era vida de verdade. O caso do ex-casal Brangelina é ainda mais complicado já que o casal tem seis filhos juntos.

Mas muita gente gosta mesmo é de "ver sangue". E, nesses casos, a misoginia corre solta.

Nas redes sociais, Angelina já está sendo comparada a Amber Heard e sendo chamada de "mentirosa".

Quando as primeiras acusações de violência doméstica vieram a público, foram feitos comentários do tipo nas redes sociais: "Tomara que esse caso vá a corte e essa suja da Angelina Jolie seja desmascarada", ou "por que ela só está falando isso agora, seis anos depois? Ela quer destruir o Brad como a Amber Heard fez com o Depp, ela é uma mentirosa".

Bem, quando Amber Heard perdeu o julgamento que ela e Depp travavam (ele pedia uma indenização por danos morais depois dela escrever um texto dizendo ser vítima de violência doméstica e ela também o processou por calúnia), a gente já esperava que algo assim pudesse acontecer.

Depois que as acusações feitas por Amber foram consideradas falsas pelos jurados e Depp foi inocentado era esperado que qualquer mulher (principalmente as que denunciassem homens famosos e cheios de fãs) fossem consideradas "mentirosas", "aproveitadoras", "vadias".

Segundo a decisão do júri, Amber mentiu. Mas o tratamento que ela recebeu foi digno de uma "Geni" (aquela da música do Chico Buarque, que era boa de cuspir). Amber só faltou ser apedrejada, enquanto Depp foi saudado como herói nos braços do povo.

Não sabemos o que realmente se passou entre Angelina Jolie e Brad Pitt. E quem vai decidir é a justiça. Mas não é nada justo que, já de cara, a palavra de uma vítima comece a ser contestada e que a atriz receba tratamento misógino.

Uma mulher que denuncia violência doméstica (seja seis meses ou seis anos depois) precisa de acolhimento, não de pedradas. Claro que, se ela por acaso estiver mentindo, o tribunal vai dizer.

O complicado é que agora, depois de todo o espetáculo em torno do julgamento de Amber e Depp, a misoginia foi liberada e alguns aproveitam a oportunidade para usar esse exemplo para descredenciar qualquer mulher famosa que faça uma denúncia sobre um galã.

É por isso que uma mulher que faz uma denúncia falsa, ou mesmo exagera, presta um enorme desserviço para as outras.

E é também por isso que julgamentos entre ex-casais, com acusações de abuso, não devem virar circos sensacionalistas com mocinhos e "megeras".