Leonardo x João: misturar política com pensão é a cara do falso moralismo

"Hoje tô triste. Sei bem a influência do meu pai. Ele é gigante, querido por tantos. Mas joga no time errado e está cego. Diante de tantos escândalos ver alguém que é tão importante para mim declarar apoio dessa forma me enoja. É tanta ignorância que nem sei."

Essa é uma parte do desabafo que foi escrito pelo ator João Guilherme, 20 anos, ontem nas redes sociais. João se manifestava sobre o fato de seu pai, junto com outros cantores sertanejos, ir para Brasília demonstrar apoio à reeleição de Jair Bolsonaro (PL). Ele também se desculpou pelo pai. "Peço perdão pelo meu pai. Eu amo ele, por isso peço perdão".

João não está sozinho. Ele representa milhões de jovens (e também pessoas não tão jovens assim) que não se conformam de seus pais ou outros familiares muito próximos, voltarem em Bolsonaro, conhecido por sua misoginia e sua homofobia.

João, assim como muitos jovens de sua geração, é desconstruído, questiona o machismo, gosta de moda, pinta a unha e não segue o padrão "machão". Não dá para esperar mesmo que ele concordasse com o voto do pai.

Depois de fazer o desabafo, João passou a ser muito criticado nas redes sociais. Ele foi chamado de ingrato, de mimado. E, muito mais sério, sua madrasta, Poliana Rocha, reprovou a atitude dele usando, inclusive, o fato de Leonardo ter honrado suas obrigações de pai e pago pensão até os 18 anos".

Espera. Pagar pensão não é uma bondade ou um favor a qual um filho deva ser grato. Essa é a obrigação. Ponto. Se você tem um filho, você tem que provê-lo. Essa é a obrigação dos pais. Não cuidar dos filhos é "abandono de incapaz" e não pagar pensão é crime passível de prisão.

Dito isso, não, esse argumento não deveria ser usado de forma alguma. Um filho não "deve" algo ao pai porque ele pagou pensão. O pai só fez o que era obrigatório por lei. Fim. Mais triste ainda é ver uma mulher falar isso. Cadê a empatia com outras mães?"

O que se espera que os filhos façam é respeitar os pais. E João Guilherme falou do pai com respeito e carinho. É chato que o desentendimento tenha chegado às redes sociais? Sim, mas é isso o que acontece em muitas famílias no momento de tensão pré-segundo turno. Pais e filhos param de se falar, irmãos rompem relações. Não, não há nada de bom nisso. Vivemos tempos de grande tensão e obviamente brigar com parentes só piora um momento de insegurança generalizada que vivemos.

Mas, repito, isso acontece em muitas famílias. Sim, a tradicional família brasileira, que Leonardo diz representar, infelizmente briga por política, barganha pagamento de pensão e muitas vezes, como no caso do sertanejo, nem é tão tradicional assim. O cantor já foi casado duas vezes e tem seis filhos, cada um com uma mulher diferente. João Guilherme, por exemplo, é filho de um relacionamento extraconjugal de Leonardo.

Não temos nada com isso e cada um faz o que quer (desde que pague pensão e cumpra suas responsabilidades). O esquisito é ter esse histórico e pregar os valores da "família tradicional". O nome disso é falso moralismo. Outra coisa que sobra nas famílias brasileiras. Muita força para pais e filhos que votam diferente. Não serão semanas fáceis.