Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro desacredita mulheres de novo ao minimizar assédio de Guimarães
"Ele passou a mão em mim. Foi um absurdo. Ele apertou a minha bunda. Literalmente isso!". "Eu estava com a roupa molhada. Ele chegou perto de mim. Perguntou se eu estava feliz. Disse que gostava muito de mim e passou a mão na minha bunda" As frases acima são de funcionárias da Caixa Econômica Federal que acusam o ex-presidente da instituição Pedro Guimarães de assédio sexual.
Os depoimentos foram publicados em junho no portal "Metrópoles" e são chocantes e doloridos. Os assédios, segundo elas, aconteciam principalmente em viagens de trabalho. Ou seja, o executivo usava dinheiro público para assediar mulheres, que viveram um terror e carregam marcas psicológicas até hoje.
O caso é tão sério e atinge tantas pessoas que, depois da publicação da reportagem do "Metrópoles", dezenas de funcionários procuraram a jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, para fazer mais denúncias. Ela contou, então, que o esquema de abuso era organizado e não era segredo de ninguém na caixa.
O uso da máquina pública era tão grande que mulheres que o interessavam eram transferidas para a sede da Caixa, para que ficassem próximas a ele.
Os danos são tão grandes que, conforme lembrou Andréa Sadi no Twitter, o Ministério Público do Trabalho protocolou no fim de setembro um pedido à justiça para que Guimarães seja condenado a pagar R$ 30,5 milhões para as vítimas que, segundo eles, sofreram sérios danos emocionais.
O que precisa mais para saber que essa denúncia é séria? No caso do presidente Jair Bolsonaro, nem esse parecer do Ministério Público é o suficiente.
Na segunda-feira (24), o presidente Bolsonaro, muito próximo de Guimarães, que chegou a participar de suas lives e era um aliado próximo do presidente, comentou o caso. Ao fazer isso, ele minimizou as denúncias e desacreditou as vítimas, que, como todo mundo sabe, é o que não se deve fazer em casos de abuso.
"Não vi nenhum depoimento mais contundente de assédio de qualquer mulher. Vi depoimentos de mulheres que sugeriram que isso poderia ter acontecido", disse.
Bem, talvez Bolsonaro não tenha lido os mesmos depoimentos que nós lemos. Ou será que ele acha que passar a mão na bunda de uma mulher em ambiente de trabalho não é assédio sexual? Uma das vítimas afirma, inclusive, que Guimarães teria dito para ela em uma viagem: "vou te rasgar". O horror. O ex-presidente da Caixa Ecônomica Federal também teria sugerido uma viagem "a trabalho" para organizar trocas de casais.
Mas para Bolsonaro, isso não é "contundente o suficiente". O presidente também se referiu às vítimas como "pessoas que se sentiram assediadas", o que dá a entender que ele não descarta a possibilidade das vítimas terem "confundido" as coisas.
Não é que elas "se sentiram", presidente, o que elas denunciaram é que elas FORAM vítimas de crime.
Bolsonaro disse também que "desconhecia a vida pessoal" de Guimarães e que ele fez um "excelente trabalho". O que ele quer dizer? Que assédio em ambiente de trabalho é "vida pessoal"? E como um profissional pode ter feito um "excelente trabalho" se, para centenas de funcionários da Caixa, a gestão de Guimarães ficou conhecida como "inferno''?
Minimizar crimes tão graves cometidos por um aliado político em um órgão público é mais um desrespeito de Bolsonaro com as mulheres. As vítimas de assédio sexual no trabalho não mereciam isso.
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