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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Simone Tebet e Marina dão aula e provam que lugar de mulher é nos palanques

A deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), o ex-presidente Lula (PT) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) em ato em Teófilo Otoni (MG) - Ricardo Stuckert
A deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), o ex-presidente Lula (PT) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) em ato em Teófilo Otoni (MG) Imagem: Ricardo Stuckert

Colunista de Universa

25/10/2022 04h00

Quando essas eleições finalmente acabarem, nós não podemos nos esquecer da força e da entrega de duas mulheres: Marina Silva, da Rede, e Simone Tebet, do MDB. Em meio a uma eleição marcada por baixarias e atos insanos, é no equilíbrio das duas que devemos nos inspirar.

Se você é uma pessoa que pensa que todo político é igual e só luta em benefício próprio, as duas estão aí nos mostrando que não é bem assim.

Simone Tebet foi candidata pelo MDB e ficou em terceiro lugar.

Na hora de decidir o que faria no segundo turno, não hesitou. "No momento não cabe a omissão da neutralidade", disse. E pressionou seu partido para que uma decisão fosse tomada rapidamente. Passou a apoiar Lula, um adversário.

Não, Tebet não é petista nem de esquerda. Ela é uma política democrata de centro. E esse apoio poderia significar apenas fazer um vídeo e sumir, como fizeram certos candidatos. Mas não. Ela botou a mão na massa e passou a subir em palanques Brasil afora para tentar derrotar Jair Bolsonaro, que, segundo ela, vai entrar para "o lixo da história".

Lula já disse que, se for eleito, ela só não será ministra se quiser. Tomara que, se ele for eleito, ela queira. Mulheres na política são importantes e, ao anunciar seu apoio, Tebet encaminhou para o candidato do PT uma lista de pautas relativas a mulheres que ela considera fundamentais.

Em uma eleição tensa como essa e com tanta violência política, tomar um lado e realmente participar de uma campanha coloca a pessoa em risco. Tebet, por exemplo, está sendo processada por Jair Bolsonaro por falar, em um comício em Belo Horizonte (MG), citando a frase do presidente sobre ter "pintado um clima" com adolescentes venezuelanas, que "se trata de estupro e lugar de estuprador é na cadeia".

Além disso, claro, ela recebe todo o ódio online, que está crescendo e, mais do que nunca, sendo dirigido a mulheres. Nas redes, ela é chamada de p* e por aí vai.

A deputada federal eleita Marina Silva conhece esse ódio de perto. Ela sempre foi extremamente atacada. No fim de semana, os ataques aconteceram na "vida real". Ela estava no restaurante de um hotel em Belo Horizonte quando foi atacada por bolsonaristas, que a ofenderam aos gritos chamando-a de "vagabunda".

No Twitter, ela explicou o que aconteceu. "Ontem, após jantar com colegas da Rede no restaurante do hotel Radisson Blu, fui xingada por simpatizantes de Bolsonaro. É a velha tentativa grotesca de coagir a ação política das mulheres. É a violência de gênero se espalhando pelo país em tempos bolsonaristas."

Marina recebeu ampla solidariedade, entre elas, de Simone Tebet. As duas haviam gravado um vídeo juntas no hotel de Belo Horizonte, contando que cada uma delas ia para um lado e que não parariam de lutar nenhum dia na última semana da campanha eleitoral.

Críticas ao PT

O apoio de Marina a Lula é um gesto carregado de símbolos. Para quem não lembra, Marina foi filiada ao PT por anos e ministra do Meio Ambiente de Lula entre 2003 e 2008. A atual deputada federal pela Rede, que já foi eleita duas vezes senadora, saiu brigada do PT em 2009 e passou a criticar duramente o partido e também a receber muitas críticas dos militantes.

Ela ficou mais de 10 anos longe de Lula e do partido. Mas, esse ano, por acreditar que essa era a melhor maneira de defender a democracia, deixou as diferenças e mágoas de lado. Se encontrou com Lula, apresentou suas propostas e, depois de eleita deputada federal por São Paulo no primeiro turno, não parou um minuto no que chama de "defesa da democracia".

Depois do ataque do ex-deputado Roberto Jefferson aos policiais federais no domingo, Marina escreveu no Twitter: "Eles têm projéteis. Nós temos projetos."

E, no caso de Marina e Tebet, elas têm também dignidade e força de sobra. E nos mostram que lugar de mulher pode, sim, ser na política, em cima do palanque, com argumentos e equilíbrio (algo que anda em falta no caso de muitos homens envolvidos nessa eleição).