Cássia Kis: triste fim de quem quebrou tabu e hoje destila ódio e homofobia

Há 30 anos, mostrar os seios na televisão, mesmo que fosse para falar de saúde, era um escândalo. Por isso, quem tem mais de 40 anos com certeza se lembra de quando a atriz Cássia Kis, então com 32 anos, fez o impensável. Em uma propaganda, ela apareceu com os seios nus, explicando a importância do auto exame para prevenir o câncer de mama.

Sim, essa foi uma atitude super de vanguarda na época, considerada por muitos uma "perdição". Mas, para a maioria das mulheres que se lembram da propaganda, Cássia se tornou uma aliada, uma mulher corajosa, que se expunha para ajudar outras mulheres. É muito louco pensar nisso. Mas, dadas as últimas declarações da atriz, é possível pensar que, se a "Cássia Kis de hoje" encontrasse a "Cássia do passado", a de hoje diria que a moça moderna dos anos 80 queria "destruir os valores da família".

Para quem ainda não sabe: Cássia fez declarações criminosas em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle (outra mulher que já foi muito moderna, acreditem). Ali, ela disse, entre outras coisas absurdas, que "homem com homem não dava filho", e que os "valores da família estavam sendo destruídos". "Não existe mais homem e mulher, mas homem com homem, a mulher com mulher, essa ideologia de gênero que já está nas escolas"(sic).

Homofobia é crime. E pensar que alguém ainda acha que sexo é só para reprodução e que homens e mulheres gays e trans não podem "ser pais" é algo absurdo em 2022. Quantos casais de mulheres engravidaram que você conhece? Quantas famílias formadas por dois pais que adotaram? Conheço vários. Todos excelentes pais e mães. E é absurdo que a gente ainda tenha que explicar uma coisa dessas.

Mais chocante ainda é ter que contar isso para se contrapor a uma declaração de Cássia Kis, a mulher que, além de mostrar os seios para ajudar outras mulheres, contou em 1987 que tinha feito um aborto numa capa histórica da revista Veja, em mais um gesto moderno e feminista.

Na época, há 35 anos (!), várias famosas estamparam uma capa da revista contando que já tinham feito aborto, ajudando a tentar quebrar um dos maiores tabus do Brasil. Afinal, o aborto é proibido, mas milhares de mulheres fazem, as mais abastadas, em clínicas particulares ilegais. As mais pobres, às vezes, se arriscam por falta de oportunidade com métodos que podem as matar.

Entre as mulheres que deram a cara tapa falando que já tinham feito aborto, estavam Elba Ramalho, Marília Gabriela e? Cássia.

É impressionante que, 35 anos depois de tudo isso, as coisas não tenham melhorado, mas, em muitos pontos, piorado. O aborto não foi legalizado. E uma capa como essa faria com que essas mulheres (assim como o veículo de comunicação) recebessem todos os tipos de ataque e ameaças.

O Brasil vive uma onda conservadora e de ódio séria. E é chocante ver que Cássia, tão moderna, faz parte dela e alimenta o ódio. Triste.