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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nós, mulheres que gritamos 'Ele não', finalmente respiramos aliviadas

Eleitores comemoram a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na Avenida Paulista - WAGNER VILAS/ONZEX PRESS E IMAGENS/ESTADÃO CONTEÚDO
Eleitores comemoram a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na Avenida Paulista Imagem: WAGNER VILAS/ONZEX PRESS E IMAGENS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista de Universa

31/10/2022 15h25

Há quatro anos, quando nós, mulheres, fomos para as ruas gritar "Ele Não", a gente já sabia o que nos esperava. Afinal, o candidato que estava na frente para ganhar a eleição, Jair Bolsonaro, já tinha dito para a deputada federal Maria do Rosário (PT - RS) que ela era "feia demais para ser "estuprada", falado que preferia morrer do que ter um filho gay e dedicado seu voto do impeachment para Carlos Roberto Ustra, um torturador, e ainda dito, com todo requinte de crueldade, que votava em nome do "terror de Dilma Rousseff". Dilma, foi torturada por Ustra no Doi-Codi. "Louvar" um torturador de mulher é monstruoso.

Então, sim, a gente já sabia que Bolsonaro era misógino e homofóbico. E por isso, naqueles dias de 2018, a gente implorava para que ele não ganhasse. Fomos para as ruas. Tentamos. Não, não foram manifestações alegres. Estávamos com medo e desesperadas, sabendo que o pior esperava por nós e que tínhamos poucas chances na época de derrotar o ódio. Quando Bolsonaro foi eleito, sentimos medo. Muito medo.

Mas, mesmo que a gente esperasse quatro anos muito difíceis, a gente não podia imaginar como eles seriam.

E foram quatro anos de horror. Quatro anos ouvindo discursos contra as mulheres, quatro anos ouvindo absurdos homofóbicos, vendo jornalistas mulheres sendo agredidas, noticiando casos crescentes de violência contra a mulher, contra gays, negros e indígenas. E, jamais esqueceremos, ouvindo o presidente falar que não era coveiro enquanto enterrávamos os nossos mortos pela Covid-19.

Por quatro anos, tivemos enjoo ao ouvir declarações machistas que gostaríamos de esquecer mas jamais conseguiremos e muitas de nós sofreram ataques e ameaças (infelizmente, estou incluída nessa estatística triste). Muitos ataques não vieram diretamente do presidente e seus familiares, mas de seus seguidores mais fanáticos, que se sentiram empoderados e livres para atacar. Se até o presidente e seus filhos faziam isso, estava permitido atacar e assediar mulheres moralmente.

"Só quem é LGBTQIA+, mulher, negro, indígena e toda pessoa que sempre foi vítima do discurso de ódio desse fascista perdedor sabe o que nosso choro representa ao ver o nome de Luís Inácio Lula nas urnas. Hoje é um dos dias mais importantes das nossas vidas. Nós vencemos", escreveu a Linda Brasil (PSOL) deputada estadual eleita por Sergipe, trans e feminista, no Twitter.

Choramos de alívio porque sobrevivemos e sentimos que deixaremos de ser alvo do ódio do Estado.

Não esperamos de jeito algum que os próximos anos sejam perfeitos ou fáceis. Não serão. Mas só deixar de ser alvo do governo do nosso país e todo seu aparato de ódio já faz a gente respirar com muito mais tranquilidade e alívio.

É até difícil de acreditar. Mas, por mais que saibamos que temos que continuar atentas e fortes, nosso pesadelo que durou quatro anos começou a acabar ontem. Que alívio. Nós sobrevivemos.