Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Líderes políticos da Alemanha celebram vitória de Lula: esperança e alívio
Há quatro anos, Annalena Baerbock era uma parlamentar do Partido Verde alemão quando soube da vitória de Jair Bolsonaro para a presidência do Brasil. Naquele dia, como muitos ativistas pelo meio ambiente no mundo todo, ela se preocupou e lamentou o ocorrido. "Que resultado ruim! Nós como europeus agora temos que fazer de tudo para aqueles que lutam pelos Direitos Humanos e pela proteção climática!", escreveu, na época, no Twitter.
Quatro anos depois, Baerbock é ministra das Relações Exteriores da Alemanha, em um governo de coalizão composto pelos partidos SDP (Partido Social Democrata), Grünen (partido verde) e pelo FDP (Partido Democrata Liberal). Na segunda-feira (31), ela estava em visita ao Cazaquistão quando deu um pronunciamento em clima de comemoração em relação à vitória de Lula nas eleições de 2022. "Essa eleição tem vários vencedores, mas o maior deles é a democracia brasileira", disse.
Baerbock continuou: "Outro grande vencedor é o clima global. Para que todos nós e nossos filhos possamos viver em segurança no futuro devemos preservar as últimas grandes florestas. O resultado da eleição dá esperança de que o desmatamento descontrolado da floresta tropical no Brasil chegue ao fim em breve e que o Brasil volte a ser uma força motriz em nossa luta conjunta contra a crise climática", completou.
A declaração entusiasmada da ministra mostra bem como é o clima na Alemanha com a mudança de governo no Brasil: animação, esperança e alívio.
Horas antes da declaração de Annelena, o chanceler Olaf Scholz, do SPD, partido aliado histórico do PT, publicou uma mensagem de parabéns para Lula no Twitter em alemão e português, dizendo que "aguardava com expectativa uma grande cooperação com o Brasil, principalmente em questões de comércio e proteção climática".
Scholz já havia demonstrado apoio a Lula em novembro do ano passado, quando formava o governo e abriu espaço em sua agenda para um encontro com o então ex-presidente do Brasil.
A euforia tem motivos. A pauta climática é central em toda a Europa.
E Bolsonaro, por aqui, sempre foi visto como um inimigo da Amazônia. Em abril de 2019, quando a Amazônia sofria com queimadas, os ativistas dos grupos ambientalistas "Friday For Future" e "Extinction Rebellion" se juntaram a brasileiros em manifestação em frente à embaixada do Brasil em Berlim.
"Acho que o governo alemão está aliviado com a vitória do Lula principalmente por causa da política ambiental. Mesmo com críticas de movimentos sociais e grupos indígenas, o Lula representa um modelo ambiental muito melhor que o do Bolsonaro. O debate da questão climática é central na Alemanha, por isso um bom relacionamento com o país "dono" da maior floresta do mundo é fundamental para a Alemanha e outros países da Europa", diz o jornalista Niklas Franzen, autor do livro "Brasilien Über Alles, Bolsonaro und die Rechte Revolte" (Brasil acima de tudo, Bolsonaro e a revolta da direita) e colaborador de vários jornais alemães..
Ele pontua que o alívio não vem só do governo. "A imagem do Bolsonaro na Europa é péssima, até entre os setores mais conservadores."
Como residente na Alemanha, noto a mesma coisa. Conhecidos e amigos se interessaram de verdade pela eleição do Brasil, principalmente para que o "Trump dos Trópicos", como ele já foi chamado, fosse derrotado.
No domingo, após o resultado das eleições, o Brasil estava em primeiro lugar no Twitter alemão, onde a maioria das pessoas demonstra alívio. "Menos um fascista em escala global", escreveu um usuário. Não é só o Brasil que respira melhor depois do resultado de domingo.
O sentimento de alivio é tão grande que no dia seguinte às eleições recebi a seguinte mensagem do meu professor de alemão (com quem não tenho nenhuma intimidade): "Nina, eu também tirei um peso do meu coração quando vi o resultado das eleições ontem. Parabéns".
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