Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Guilherme de Pádua morreu em liberdade: Daniela Perez não teve justiça
Comemorar a morte de alguém ou criticar uma pessoa que acaba de morrer é algo eticamente complicado. Afinal, quem morre tem família, mesmo se for um assassino. Mas outra coisa é pensar sobre justiça. Guilherme de Pádua, que, segundo o pastor Márcio Valadão, morreu neste domingo (6) de ataque cardíaco em sua casa aos 53 anos, morreu sem pagar o que devia para a sociedade e para a família de Daniela Perez, assassinada por ele e sua ex-mulher, Paula Thomaz, em 1992.
Pádua foi condenado a 19 anos anos. Ficou preso apenas seis anos e nove meses. É muito pouco. Matar uma mulher com crueldade tem que render mais do que seis anos de prisão. Mas assassinos de mulheres pagam pouco. Uma prova disso é o ex-goleiro Bruno, condenado pela morte de Eliza Samudio, que só ficou seis anos e sete meses na prisão.
A novelista Glória Perez, mãe de Daniela, lutou incansavelmente para que crimes como o praticado contra sua filha fossem considerados crimes hediondos e punidos mais severamente. Ela conseguiu em parte. Em 1994, o homicídio qualificado passou a ser considerado crime hediondo. Mesmo assim, Daniela não teve a justiça pela qual sua mãe tanto lutou.
Além de acabar cumprindo penas amenas, esses homens são facilmente perdoados por parte da sociedade. Guilherme virou pastor (!), se casou de novo, teve filhos. Fazia cultos, tinha fãs e ainda se sentia "injustiçado". Quando a excelente série "Pacto Brutal", sobre Daniela e sua morte foi lançada, Pádua reclamou que "o seu lado não tinha sido ouvido". Que lado? Desde quando o responsável pelo assassinato de uma menina de 22 tem "lado"?
Pádua também se sentia autorizado a participar da sociedade e a se manifestar politicamente, como se fosse um "cidadão do bem". O assassino apoiou a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e uma de suas últimas postagens é dele participando de um protesto antidemocrático de bloqueio a estradas por não aceitar o resultado das eleições.
Não estou falando que criminosos nunca devam ser integrados à sociedade. Mas acho que um homem que matou uma mulher a facadas se integra fácil demais.
Uma amiga lembrou do caso de Suzane Von Richthofen, que continua presa e cada vez que sai da prisão em datas festivas isso vira um escândalo.
Não, não acho que Suzane deva ser integrada à sociedade. Ela praticou um crime horrível, matou os pais com extrema frieza. O que acho é que assassinos frios e cruéis, que planejaram a morte de mulheres, como Guilherme de Pádua, deviam receber o mesmo tratamento. Inclusive como medida educativa.
Exemplos como os de Pádua e do ex-goleiro Bruno sinalizam para outros homens que matar mulher é quase liberado. Você vai ficar alguns anos preso, mas vai logo e depois vai ficar tudo bem na sua vida.
Daniela Perez e sua mãe, assim como milhares de vítimas Brasil afora, mereciam justiça. Não tiveram.
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