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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gal apoiou a democracia; não é justo que ela tenha ido embora logo agora

Gal Costa morreu nesta quarta-feira aos 77 anos                      -  MANUELA SCARPA/DIVULGAÇÃO
Gal Costa morreu nesta quarta-feira aos 77 anos Imagem: MANUELA SCARPA/DIVULGAÇÃO

Colunista de Universa

09/11/2022 13h15

Gal Costa, que morreu hoje aos 77 anos, nos deixa órfãos e de luto. Isso porque ela é uma deusa e nós, mulheres brasileiras, devemos muito a ela, à sua liberdade e coragem. Hoje, choramos a morte de um ícone e uma inspiração.

Gal é vanguarda desde sempre e, assim, nos ajudou a abrir muitos caminhos. Ela "desbundou", o que significava ser livre, ainda lá nos anos 1970, com seus amigos e parceiros da vida toda, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia.

Desde sempre foi uma musa, uma cantora genial e uma lançadora de tendência. Era ela a cantora de "Baby", hino da geração dos meus pais, onde fala sobre "tomar sorvete na lanchonete, andar com a gente, nos ver de perto".

Nessa época, Gal era tão musa que a praia que frequentava no Rio de Janeiro ganhou o nome de "Dunas da Gal", o reduto dos descolados em Ipanema, só para a gente lembrar o quanto ela era um ícone de comportamento.

Gal nos acompanhou pela vida toda. Lembro de pular "o balancê, balancê" quando era criança, época em que os adultos me contavam sobre como eram maravilhosos os shows de Gal Costa.

E depois, já adulta, Gal virou religião minha e dos meus amigos com o moderníssimo álbum "Recanto", de 2012, com canções escritas por Caetano, que também produziu o disco, junto de seu filho Moreno Veloso. Vi esse show inúmeras vezes. Chorei em todas.

Ali, Gal canta funk e música eletrônica, moderníssima. Com letras maravilhosas que pareciam prenúncio dos tempos que viriam, ela falava "que neguinho vai para Europa e States e volta cheio de si, neguinho só quer saber de filme em shopping".

Na capa, posou mostrando suas rugas. Linda do mesmo jeito que sempre foi. Na época, há dez anos, ela já anunciava: "Cara do mundo, tempos de escuridão".

Dez anos depois, Gal apoiou Lula e a democracia em seus shows. Ela foi uma das primeiras a fazer o L. Não é justo que ela tenha ido embora logo agora que os "tempos de escuridão" podem nos dar uma trégua. Mas a sua parte ela fez. Mais do que a grande maioria de nós, mortais. Gal é imortal. E o dia em que ela nos deixa devia ser feriado.

"Tudo dói", como ela mesmo canta.