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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Ganhar' empregada? Mulher de Safadão é incapaz de assumir racismo

A influenciadora disse que funcionária foi "presente de casamento" de sua mãe - Foto: Reprodução / Instagram
A influenciadora disse que funcionária foi "presente de casamento" de sua mãe Imagem: Foto: Reprodução / Instagram

Colunista de Universa

21/11/2022 11h49

Um princípio básico da educação, que usamos com crianças pequenas, é ensiná-las que, quando erramos, devemos assumir nossos erros. Em seguida, devemos pedir desculpas. O próximo passo é aprender com o erro, para que ele não se repita. É simples. Mas parece que algumas mulheres brasileiras brancas mimadas ainda não entenderam isso, principalmente quando o assunto é racismo e a relação escravocrata que boa parte da classe média e classes altas do país mantêm com empregadas domésticas.

A última a demonstrar isso (mas ela não é a única) foi Thyane Dantas, influenciadora e esposa de Wesley Safadão. No fim da semana passada, o ativista Antonio Isuperio denunciou uma atitude escravocrata da influenciadora. Em um vídeo no Instagram, ela fala sobre a empregada doméstica da família e afirma que ela poderia ter sido um "presente de casamento para ela".

"Mainha dizia que, quando eu casasse, Raimunda era minha, não era?", disse, ao lado da mãe e da empregada. Em seguida elas elogiam a trabalhadora, que, segundo elas, está com a família há 23 anos.

A fala de Thyane foi considerada racista. E é mesmo. Esse é um daqueles racismos que muitos de nós, brancos, criados em um país com racismo estrutural e onde é comum que se tenha "empregada" (em geral negras) cometemos sem nem perceber. Mas não é por isso que deixa de ser racismo.

Thyane poderia ter ouvido as críticas e aprendido, analisado o racismo que carrega dentro de si, pedido desculpas e passado a tentar não repetir esse tipo de atitude e de fala.

Não foi o que ela fez. Em uma explicação publicada em suas redes sociais, ela diz: "É bem desafiador perceber nossos sentimentos e intenções de fala julgados por quem está muito distante e afirmando com convicção aquilo que não está dentro de nós para entender, mas, por saber da legitimidade da causa levantada, peço perdão a quem sofre tanto com esse retrocesso; decidi então me pronunciar afirmando que a Raimunda é uma das minhas principais memórias de amor, cuidado e confiança desde a infância."

Não vi nenhuma pessoa que criticou Tayane duvidar do amor que ela sente pela funcionária da família, como ela afirma. E esse tipo de relação, muitas vezes, é, sim, pautada pelo afeto, o que não quer dizer que não haja racismo ou atitude escravocrata.

No mesmo vídeo, a influenciadora pergunta para a funcionária, que estava na cozinha, se "hoje teria pipoca doce". Ou seja, por mais que haja "amor, cuidado e confiança'', estamos falando de uma relação de empregada x patrão. Não adianta usar o clichê "é como se ela fosse da família". Não é. E achar que se pode "ganhar" uma pessoa é errado e escravocrata sim.

Thayane, repito, não é a única. Todos nós, brancos, temos atitudes racistas. Mas, se queremos deixar de ser, precisamos combater essas atitudes em nós mesmos. A primeira maneira de fazer isso é assumir o racismo.

Tenta, Thyane, dói um pouco, mas faz bem.