Balenciaga associa crianças a fetiche: 'polêmicas' da grife perderam graça

Há tempos a grife Balenciaga vira notícia por provocar polêmicas. Primeiro foi um tênis destruído vendido por cerca de R$ 10 mil, depois um saco de lixo, usado por refugiados de guerra, que também foi lançado e provocou delírio entre influenciadoras famosas. Sim, tem gente que compra esses objetos por amor a uma marca (uma das loucuras do capitalismo).

Agora, a grife espanhola foi longe demais. E resolveu "brincar" com um assunto muito sério e que não permite nenhuma brincadeira: o abuso infantil. Sim, você leu certo. Eles lançaram na semana passada uma campanha na qual crianças seguravam bolsas em formato de ursinhos de pelúcia "sadomasoquistas" (os brinquedos estavam vestidos a caráter).

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Além disso, no cenário, estavam brinquedos sexuais, como algemas e coleiras. E ainda piora. No cenário estão também decisões judiciais sobre pedofilia.

A campanha foi clicada pelo fotógrafo italiano Gabriele Galimberti.

Poderia ser uma denúncia? Até poderia. Mas não se denuncia algo tão grave oferecendo um fetiche para abusadores. Em uma das fotos, uma criança está deitada em um sofá, com brinquedos sexuais e copos de bebida em uma mesa. A imagem é de vulnerabilidade.

Nas redes sociais, muitas pessoas pedem o boicote à marca. E, dessa vez, a grife percebeu que as críticas eram sérias. Ao invés de responder com as frases que costumam usar, tipo, "adoramos um escândalo de moda", eles retiraram a campanha do ar e pediram desculpas.

"Pedimos as nossas sinceras desculpas por qualquer ofensa que a nossa campanha de Natal possa ter causado. As nossas malas-urso-de-pelúcia não deviam ter sido mostradas com crianças. Removemos a campanha em todas as plataformas."

Eles também tentaram tirar o corpo fora, falando que os documentos sobre pedofilia não deviam estar no set e não foram aprovados pela marca: "Pedimos desculpa por mostrar documentos perturbadores na nossa campanha. Levamos este assunto muito a sério e estamos tomando medidas legais contra os responsáveis pela criação do set e por terem incluído itens não aprovados para a sessão fotográfica da nossa campanha de primavera".

Para muitos, esse pedido de desculpas simplesmente não é suficiente.

E, não, não tem como eles "tirarem o corpo fora" e colocarem toda a culpa no fotógrafo. Isso porque para uma campanha ser lançada por uma grife, ainda mais uma marca de luxo milionária como essa, ela passa por centenas de profissionais, que a aprovam. Ninguém viu nada de errado?

Pelo jeito, eles achavam que o marketing do "quanto mais choque melhor" era infindável.

Heroin Chic

Não é de hoje que a publicidade de moda causa polêmica.

Nos anos 1990, por exemplo, a moda era o "heroin chic" (sim, em referência a usuários de heroína). Na mesma época, o fotógrafo Juergen Teller causou polêmica com fotos e ensaios que mostravam, por exemplo, o corpo de uma modelo (no caso, Kate Moss) sujo, como se estivesse machucado ou mesmo morto, em um carrinho de mão.

Tudo isso pode ser flerte com a arte? Sim. E muitos desses fotógrafos são talentosíssimos. Agora, definitivamente, uma marca não pode usar abuso infantil para vender. Não podemos esquecer que, quando uma marca faz uma campanha dessas, por mais que flerte com a arte, o objetivo final é vender e ganhar milhões. Simples assim.

A polêmica costuma ser muito lucrativa, já que faz com que o nome da marca circule. Eu mesma estou aqui, de novo, falando da Balenciaga.

Tomara que eles percebam que se alimentar de polêmicas uma hora pode cansar até os seus consumidores. Isso se os adoradores da marca entenderem que eles foram longe demais. Ou será que vão achar tudo lindo e tentar encomendar um ursinho? Eles ainda não estão à venda no site da marca. Vamos ver se eles terão a decência de não os venderem.