Topo

Soltos

O fim de Ben Affleck e Ana de Armas: o cara já ter filhos é um problema?

Ben Affleck e Ana de Armas se separaram após um ano de namoro.  - Reprodução/ Instagram
Ben Affleck e Ana de Armas se separaram após um ano de namoro. Imagem: Reprodução/ Instagram

Colunista de Universa

20/01/2021 04h00

A semana começou animada no mundo das fofocas pop. Após a onda de notícias alardeando os casais que oficializaram seus namoros no réveillon, aparentemente começou a temporada daqueles que aproveitaram a virada do ano pra fazer um faxinão sentimental e resolveram deixar os relacionamentos capengas em 2020. Foi o caso de Ben Affleck e Ana de Armas que, após quase um ano de namoro, resolveram iniciar 2021 separados.

Como todo bom término de casais de celebridades, a notícia vem junto com uma chuva de especulações sobre o porquê do final da relação. O pronunciamento oficial da assessoria do ex-casal diz que eles estavam "em momentos diferentes de vida" e os tabloides prontamente foram apurar o que estava por trás dessa frase clichê. Aparentemente há duas hipóteses: a primeira é que ela não queria morar em Los Angeles e Ben não quer abrir mão de viver na cidade, já que seus filhos moram lá e ele quer manter um contato frequente com eles. A segunda é a de que Ben não quereria mais ter filhos - pois já tem 3 de seu relacionamento anterior - e Ana gostaria de engravidar no futuro.

Mais do que descobrir o que rolou de verdade, fiquei com vontade de trazer para pauta nossa relação com pais separados. Como lidamos com a necessidade de dividir o tempo do cara com as crianças? Como nos relacionamos com a ex-companheira dele? E como trazemos (ou não) para a mesa nosso desejo de ter filhos e construir uma nova família. Já sabemos que as mães separadas não só têm que enfrentar rotinas sobrecarregadas como também sofrem um preconceito gigante ao voltar pra pista, mas a provocação que eu trago hoje é: o quanto algumas mulheres também encaram o fato de o cara ter filhos como um problema.

Um amor, uma cabana, e alguns brinquedos espalhados pela sala

Infelizmente a realidade brasileira ainda retrata uma legião de pais ausentes, que pouco se importam com a construção de vínculos afetivos com as crianças. A gente enche a boca para falar mal do ex-marido daquela amiga que não paga pensão e deixa os filhos com a mãe dele nos finais de semana estipulados pelo juiz para que ele ficasse com os filhos, mas tem me surpreendido muito o número de mulheres que escrevem no inbox do soltos reclamando de ter que negociar a agenda dos dates com a agenda da guarda compartilhada dos caras. Quer dizer, na teoria o pai omisso é um babaca, mas na prática, se ele é seu novo namorado, ser um pai presente é um empecilho? Será que não está faltando maturidade aqui, produção?

"É um saco porque só dá pra marcar programinha no fim de semana de 15 em 15 dias e outro dia o cara cancelou o encontro na quinta porque o filho ficou com febre? ai fica difícil engrenar" ou "tinha marcado um programinha com o boy hoje e ele restringiu super o tempo porque queria ver a filha que mandou mensagem que tava triste. Quer dizer, ele se importou com os sentimentos dela mas nem pensou nos meus" são exemplo de algumas das mensagens que recebemos nas últimas semanas.

Pra mim por trás dessas reclamações existe um desejo egoísta e quase infantil de ser o centro da vida do outro. Parece que em algum lugar o ideal da relação romântica ainda é o "amor e uma cabana" e me entristece ver mulheres competindo (mesmo que inconscientemente) com os filhos do cara.

A gente precisa desconstruir a ideia de que a pessoa escolher fazer outra coisa no dia dela é uma rejeição a nós ou um desmerecimento da relação. Não dá para gente querer ser prioridade sempre. Não dá para achar razoável querer que o cara mude de cidade e se distancie das crianças por que você não quer morar em Los Angeles, Ana. (Eu nem conheço a moça e já tô aqui palpitando). Acho que quando a gente entra num relacionamento com um cara que já tem filhos, tem mais é que incentivar a proximidade dele com as crianças, fazer o possível para construir uma relação boa com elas e respeitar o tempo deles a sós.

Pra mim ver o cara ser um pai presente inclusive aumenta meu tesão nele pois me faz projetar a ideia de que, caso um dia a gente tenha os nossos filhos juntos, ele também vai ser cuidadoso e carinhoso. Isso nos leva ao segundo ponto a ser conversado:

Sempre cabe mais um?

Acho muito importante a gente poder conversar abertamente sobre o desejo de ter filhos com nossos parceiros, independente deles já terem ou não crianças dos relacionamentos anteriores, mas percebo que esse papo ainda é um tabu, principalmente se você já passou dos 35, como eu.

Se a gente tem medo de perguntar pros caras com quem estamos saindo há 11 meses se já estamos namorando ou não, que dirá ter um papo sincero sobre o desejo de formar uma família? Parece que falar sobre filhos significa que assim que o cara espirrar você vai engravidar dele, como se querer filhos fosse querer ter eles amanhã. Infelizmente rola novamente o medo de pressionar o cara e ele pular fora. E, tomadas por esse medo, vamos deixando esse papo pra depois. O problema é: depois até quando?

Já contei aqui que congelei meus óvulos e como isso me deu tranquilidade para poder esperar o momento e a pessoa certa para ter filhos. Mas ainda que a medicina tenha avançado e nós tenhamos ganhado alguns anos de prorrogação na fertilidade, o relógio biológico ainda existe e não dá para fingir que não sabemos disso.

Da mesma forma como queremos que os caras parem de achar que toda mãe separada quer um novo pai para seus filhos, acredito que tenhamos que parar de pensar que todo cara com filhos já não quer "novas bagagens". Confesso que já me peguei pensando "putz, esse cara que eu tô saindo tem um filho de 14 e uma de 12? será que vai querer recomeçar a vida louca das fraldas e mamadeiras agora?". Parece que na minha cabeça um cara que tem filhos pequenos ainda está com o "mood perrengue primeira infância" ativado e, assim, estaria mais propenso a aumentar a família comigo.

Mas a grande verdade é: sem conversar, não dá pra saber. Conheço caras sem filhos que não querem filhos e caras com filhos adolescentes que topariam filhos, por exemplo. Ou seja, da mesma forma que queremos desconstruir o clichê de que toda mulher com mais de 35 está desesperada para procriar, precisamos parar de fazer essas suposições de que os filhos do casamento anterior são um impeditivo para novos filhos.

Posto isso, acredito muito na nossa responsabilidade: se queremos ter filhos e o cara com quem estamos já colocou pra gente que não quer, talvez seja melhor mesmo fazer como Ana de Armas e terminar a relação. Já vi muitas mulheres trabalharem na chave do "deixa ir rolando a relação, uma hora ele muda de ideia"... E o cara não mudou nunca, elas entraram na menopausa e se frustraram.

Se ser mãe é um sonho e um desejo seu, não fique com medo de colocar as cartas na mesa e "espantar o cara". Não dá para contar com as mudanças de ideia dele, não dá pra empurrar assuntos importantes com a barriga. O mundo está cheio de gente legal e ser honesta com nossos desejos só aumenta nossas chances de construir relações interessantes com gente que é honesta com a gente também.

Pra mais conteúdos como esse, nos siga no Youtube e no Instagram.