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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Após 7 términos, Maiara fica noiva. Casar resolve problemas de relação?

Colunista do UOL

10/02/2021 04h00

Se você coloca Maiara e Fernando no Google aparecem as seguintes sugestões:

resultado da busca pelos nomes de Maiara e Fernando no Google: dá pra sentir o estilo do relacionamento, ne? - reprodução Internet - reprodução Internet
resultado da busca pelos nomes de Maiara e Fernando no Google: dá pra sentir o estilo do relacionamento, ne?
Imagem: reprodução Internet

Em menos de dois anos de relação (eles começaram a namorar em março de 2019) o casal foi e voltou 7 vezes e a cantora revelou que já bloqueou o namorado/ex-namorado/namorado de novo dezoito vezes. Talvez tantas idas e vindas seja um sinal de que as coisas não estão funcionando e que algo precisa mudar, certo?

Pois bem, parece que em 2021 eles resolveram fazer diferente: de namoro ioiô passaram para casamento paraquedas. Semana passada Fernando pediu Maiara em casamento durante um salto de paraquedas em Dubai, tudo devidamente gravado e compartilhado nas redes sociais. Agora com o céu do oriente médio e a web como testemunha, os dois juram que "daqui pra frente tudo vai ser diferente" como já diria o rei Roberto Carlos. Será mesmo? Me pergunto por que tanta gente acha que dar o próximo passo vai resolver uma relação que claramente anda mal das pernas.

Eu mesma já passei por essa situação: namorei um cara durante 3 anos e, depois de muitas tentativas de ajustar a relação, quando fui terminar definitivamente ouvi a seguinte proposta: "por que a gente não mora juntos?". Na cabeça do meu ex, do casal de sertanejos e de muita gente, parece que rola uma espécie de lógica de videogame: ao passar de fase você zera as perdas do mundo anterior e reinicie sua aventura, cheio de pontinhos. Quantas pessoas você conhece que tentaram resolver um namoro capenga casando ou salvar um casamento desgastado tendo um filho?

Critico a atitude do meu ex mas confesso que, agora que estou solteira, já me peguei várias vezes pensando "ah, esse casinho tá turbulento mas se a gente namorar as coisas vão mudar. O problema é a indefinição?". Como se subitamente os perdidos no fim de semana ou os comentários depreciativos sobre a minha carreira fossem desaparecer assim que a gente mudasse o status do Facebook e ele passasse a frequentar oficialmente o almoço de domingo na minha tia Cleyde.

Por que a gente acha que o que ficante mais ou menos vai ser um namorado legal, que um namorado mais ou menos vai ser um marido bacana ou então que o marido mais ou menos vai virar um super companheiro e pai de família quando as crianças chegarem?

Se a gente fizer o paralelo em outros campos da vida essa lógica rapidamente parecerá absurda. Imagina você ouvir do seu chefe "olha, você não tem batido as metas, não consegue motivar sua equipe? vou te promover a diretora". Já pensou?

Distraídos venceremos (será mesmo?)

Entendo que chega uma hora em que a gente não aguenta mais discutir pelas mesmas coisas. Rola uma exaustão de voltar pela 30a vez na mesma DR sobre ciúmes e possessividade, afinal de contas você já brigaram 300 vezes sobre o tema e já terminaram sete vezes por causa disso. Aí, em vez de efetivamente se implicar para transformar a relação e mudar o que está incomodando, ou entender que, mesmo amando a pessoa, talvez seja melhor cada um ir para o seu lado, a gente entra numa espécie de lógica "pão e circo" do amor.

Os incômodos são varridos pra debaixo do tapete e decidimos mudar o foco das conversas e nos entreter com assuntos aparentemente mais divertidos. De repente as noites de climão são substituídas por horas deliciosas escolhendo o sofá da sala nova, os docinhos do casamento ou o nome do bebê. Subitamente a vida parece fazer sentido de novo. Vocês cresceram e viraram a página juntos!

Além disso acho que rola também uma espécie de ilusão de um upgrade de estabilidade. Parece que ao se comprometer com as testemunhas do casamento, com a dívida de 30 anos no banco pra pagar a casa nova ou com o bebê Luiz Otávio que está por vir, o elo da relação automaticamente se tornasse mais forte. Sinto desconstruir esse sonho dourado...

Pesquisas mostram que um quinto dos casais se separam até o primeiro ano do bebê. E eu penso que deve ser exatamente a parcela das pessoas que resolveu ajustar a relação dando o próximo passo rumo à parentalidade. A meu ver isso se dá por alguns fatores:

1. Você vai tropeçar no próprio tapete: infelizmente, as tais desavenças da fase anterior não zeram como nos videogames. As faltas de respeito vão continuar e, mais cedo ou mais tarde, você vai ser obrigado a confrontá-las novamente

2. A nova fase traz novos perrengues: além de todo drama da relação vocês dois se verão obrigados a lidar com todos os pepinos e perrengues dessa nova etapa: as dívidas do apartamento, o bebê que não dorme há uma semana, o desgaste da convivência diária? Eu tive um namorado com quem brigava muito e uma sábia tia me dizia: "acredita em mim, as coisas só tendem a piorar. Se a relação já está um campo de guerra agora é possível que seu coração não sobreviva". Na época achava ela fatalista. Hoje entendo que o conselho é bem sensato

3. É preciso se preparar para a próxima fase: talvez devêssemos voltar para a lógica do videogame, numa pegada mais RPG: enquanto não desvendarmos a chave daquela fase o sistema não libera a próxima. Sim é exaustivo, sim dá trabalho, sim pode ser que a gente desista. Mas encarar os problemas de hoje de frente é a única forma de fazer as coisas mudarem.

Não quero ser a tia amarga aqui. Maiara e Fernando, espero que vocês sejam muito felizes nesse casamento. Espero que os problemas tenham sido resolvidos. Relação é construção e se vocês venceram juntos o perrengue da fase anterior, ótimo! Se não, vale um bom papinho pra construir o "felizes hoje" antes de partir para o "felizes para sempre", não acham?

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