Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como vamos encarar 2021 inteiro sem ter extravasado nas farras do Carnaval?
Não sei vocês, mas eu daria tudo pra trocar minha roupa limpinha e minha garrafa de vinho caro de hoje por uma cerveja quente, um maiô suado e muita purpurina compartilhada em um bloquinho secreto nas ruelas do centro do Rio.
No dia de hoje, dia de Carnaval, no "velho normal" eu estaria acordando as 5 horas da manhã animadíssima, vestiria meu look montado pro bloquinho (eu e André somos desses que passam dias garimpando na 25 de Março e nos sites e queimando o dedo com cola quente pra criar fantasias) e me jogaria nas farras distribuindo sorrisos, abraços e beijos sem moderação.
Sim, minha carne é de Carnaval e eu fico me perguntando o que vai ser dela em um ano sem "chuva, suor e cerveja". Você também tá com medo de surtar por não extravasar esse ano? Quais serão os impactos em nossa saúde mental em viver um ano sem direito a esses 5 dias de descompressão?
A maravilhosa fenda no tempo
Meu lance com o Carnaval vai muito além do beijo na boca. Pra mim, a maravilhosidade desse feriado tem a ver com a liberdade e a soltura que ele nos proporciona. Na minha vivência esses são dias onde a gente se leva menos a sério, se mistura mais e se julga menos.
E é providencial que o feriado ocorra bem no começo do ano, não acham? Parece que ele nos dá ao mesmo tempo uma licença poética pra esquecer as dívidas do IPVA, IPTU e da matrícula da escola e uma espécie de prorrogação de toda energia boa que a gente vibrou na virada do ano mas que já tava gasta com os quase 2 meses de vida real.
Carnavalizar é preciso. E talvez esse ano a gente precisasse e merecesse mais do que nunca dessa fenda no tempo. Não aguento mais me olhar com a mesma calça de moletom e camiseta surrada no espelho do mesmo apartamento de 60m² . Tava precisando brincar com asas de borboleta e bodys de onça pra voltar a brincar comigo também; pra me permitir deixar de lado o papel que eu vivo todo dia e fantasiar outras vidas e personagens.
Não aguento mais o olho no olho intermediado pela janela do zoom e os cumprimentos de cotovelo seguidos por doses generosas de álcool gel. Não aguento mais criar barreiras e distanciamentos com as pessoas que eu amo e entender que este é meu maior ato de amor por elas.
Queria mesmo os dias sem barreira nenhuma com os amados e com os anônimos. Tava precisando me lambuzar no suor dos outros, beijar estranhos, sorrir sem moderação. To com abstinência desses dias onde é "todo mundo junto e misturado" e onde tudo é convite pra aproximação (sempre com respeito, claro).
Queria estar agora praticando minha soltura e interagindo com gente que eu nunca vi na vida. Fecho os olhos e já me vejo naquela catarse de amor, entrega e confiança. Gente elogiando a fantasia alheia, trocando olhares, soprando purpurina e cantando ""Ôôôô, Aurora? Veja só que bom que era?"
Deixa eu brincar de ser feliz
Nossa! que bom que era! fui feliz em meus carnavais e sabia! Pela chuva de TBTs fantasiados no meu feed algo me diz que não sou a única que anda sofrendo dessa abstinência de amor, leveza e contato humano. Toda essa inflamação e cancelamento que têm rolado no BBB e na vida são reflexo desses meses todos em estado de alerta e sem válvula de escape.
Não aguento mais seguir protocolo, estar vigilante, comedida, afastada. Queria não ter protocolo, não ter limites, não ter moderação. Ando com medo de a gente explodir com quem tá perto e se implodir na ansiedade. Como não surtar nesse novo normal?
Tenho meditado regularmente, me alimentado de maneira mais saudável e intensificado minhas sessões de análise para segurar a saúde mental na pandemia. São ferramentas maravilhosas que me ajudam muito a organizar minhas emoções. Mas confesso que tem horas onde penso que o que mais me ajudaria seria um pouco de caos e inconsequência! Ao invés de me conter, queria extravasar.
Liguei a live do Bloco da Preta, me embriaguei, dancei sozinha na sala e até tentei flertar pelos comentários do Youtube pra fingir que eu tava no bloquinho! Não rolou. O digital é maravilhoso mas não resolve o calor humano, o cheiro de cecê alheio, as gargalhadas compartilhadas com estranhos...
Obviamente não estou incentivando a aglomeração purpurinada. Sou CDF do isolamento e, mesmo aquariana, fiz minha cabeça falar mais forte do que meu fogo no rabo e "tô me guardando pra quando o Carnaval chegar." Até lá, haja meditação e análise por zoom.
Se você tiver outras dicas pra extravasar dentro das regras do novo normal, divide comigo, por favor. E assim que a vacina chegar, me espera 5 horas da manhã na saída do Boi Tolo no centro do Rio de Janeiro que eu vou te abraçar sem protocolo e sem moderação. Vai ser lindo, vai ser solto, vai ser catártico!
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