Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ivete faz 50: você conhece alguma mulher dessa idade que se pareça com ela?
Por que Ivete, que completa 50 anos nesta sexta-feira (27), não parece ter a idade que tem? É porque não tem rugas? Ou porque continua ativa fisicamente?
Quantas mulheres de 50 você conhece que se pareçam fisicamente com Veveta? Que vida elas levam? A que classe social pertencem? Onde vivem?
Nossa sociedade trata a juventude como um valor. Nela, ser jovem é um elogio. Por isso o corriqueiro e lisonjeiro "nem parece" diante da revelação da idade de uma mulher. Ser jovem é bonito, ser velho é feio. Juventude é considerada socialmente como um padrão, mas é temporária, então a solução é fazer dela algo duradouro. O padrão está com o colágeno —ou o botox— bombando.
Juventude é só uma das tantas fases da vida. Por que não lidamos com o passar do tempo com todas as dores e belezas como simplesmente acontece? "Rugas deveriam apenas indicar onde os sorrisos estiveram", é a frase de Mark Twain que abre "A Invenção de uma Bela Velhice" (ed. Record), da antropóloga e pesquisadora Mirian Goldenberg.
Dá para medir e quantificar a pressão pela juventude eterna quando olhamos os últimos dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética e quando nos deparamos com vereadores que trabalharam para estabelecer e aprovar o Dia da Harmonização Facial.
O Brasil é o segundo país que mais faz procedimentos estéticos no planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. No mundo, as intervenções nos glúteos apresentaram o maior crescimento entre todos os procedimentos. Cirurgias de implante de silicone tiveram aumento de 38,4% em 2019 e 65,9% desde 2015. A cirurgia que levanta o bumbum aumentou 25,5% em 2019 e 77,6% desde 2015. A maior parte dos procedimentos foi feita em mulheres com idade entre 35 e 50 anos.
O último censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, de 2018, aponta para o mesmo sentido: 60% das intervenções são estéticas. Entre os procedimentos não cirúrgicos, a campeã absoluta é a toxina botulínica, vulgo botox (95,7%), seguida do preenchimento (89,6%). A faixa etária que concentra o maior percentual de pacientes, 36,3%, é entre 36 e 50 anos. E 34,7% têm de 19 a 35 anos. Ou seja, a despeito do necessário e bem-vindo crescimento de movimentos como o "body positive", continuamos negando as aparências e disfarçando as evidências da passagem do tempo no nosso corpo.
Sempre ouvi que não pareço a idade que tenho, que sou jovial e essas coisas. Sempre, até deixar de ser ruiva, eliminar a franja e me tornar naturalmente grisalha de cabelos curtos, aos 43 anos. No dia 1 da grisalhice me transformei em uma senhora. O tratamento imediatamente passou de "você" para "senhora", sem transição democrática. Percebe? Parece um detalhe desimportante, mas ele diz bastante.
Não é fácil ignorar a obrigação de ser jovem, estamos todas sujeitas e pressionadas por ela. Como disse muitas vezes sobre "assumir" os cabelos naturais, a ideia não é sair de uma prisão e cair em outra. Se me der vontade, tinjo eles de novo. De ruivo, de preto, de azul, não importa. Não deveria importar. Mais libertador é tomar consciência disso tudo.
Cada uma sabe a história que carrega no corpo e como ela foi construída. Por isso, ninguém deveria parecer idade alguma porque, apesar de compartilharmos mais ou menos as mesmas transformações físicas e hormonais ao longo da vida, somos múltiplas, com rugas, botox, com o cabelo da cor que bem entendermos, sem cabelo, com bunda em pé ou celulite na coxa e gordura localizada.
Devemos poder existir como somos, sem ninguém dizer como deve parecer uma mulher de 50 anos. Nem de 30, de 40, 60, 70, e por aí vai.
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