Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que a gente ainda se importa com o look das celebridades no Red Carpet?
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Começo já dizendo que não sei. Eu recebi essa pergunta lá no meu Instagram e isso ficou martelando na minha cabeça por dias. Fiquei com vontade de trazer a conversar pra cá, pra gente pensar juntas.
Do meu lado, tapete vermelho, famosas hollywoodianas vestidas com roupas volumosas, é uma chance de sair do dia a dia. É uma oportunidade de ver a roupa com um viés mais lúdico. Quem de nós vai usar um vestido grande, bufante, volumoso e tão chique quanto aqueles?
Sinceramente, uma pessoa comum, que leva uma vida ótima e feliz, mas que não frequenta pré-estreias nem prêmios internacionais, viverá 90 anos e nunca irá entrar em uma peça dessas.
Não é uma roupa que a gente vá na padaria, ao trabalho ou vá pegar um ônibus pra praia no fim de semana. Roupa de tapete vermelho não tem muito compromisso com a vida real, né? Não é sobre mobilidade. Não precisa nem caber no carro para chegar no evento: em 2018, Blake Lively fretou um ônibus para conseguir chegar no Met Gala porque a roupa que ela usou era tão grande, volumosa e estruturada que não havia maneira de fazer caber num carro.
Roupa de Red Carpet tem esse espírito de inatingível, de sonho, de conto de fadas —pro bem e pro mal, naturalmente. Eu lembro de um Oscar em que a Lupita Nyong'o usou um vestido da Calvin Klein bordado com 6.000 pérolas e que foi avaliado em 150 mil dólares. Uma loucura. Após a cerimônia, o vestido foi roubado do quarto da atriz, sem nenhuma explicação ou pista. Dias depois, ele reapareceu. O ladrão —que fez uma ligação anônima para a polícia— devolveu o vestido pois alegou que as pérolas eram falsas. Como não am
ar essa história? Fato é, que o vestido era mesmo belíssimo, perto de ser uma obra de arte, não é mesmo uma peça pra ser reproduzida ou usada muitas vezes. Certamente virou item de colecionador e vai estar em exposições de moda num futuro próximo.
A minha sensação é que essas premiações e eventos onde as pessoas se vestem com muito capricho é uma passarela de tendência, uma segunda semana de moda, que conversa um pouco mais de perto com o público. É desses eventos que a gente tira referências para roupa de festa, para testar uma coordenação de cor diferente, para ousar em uma make no final de semana.
Mini, pele de fora, cabelo solto
Foi vendo a Ines de la Fressange de sandália sem salto em Cannes que trouxe pra mim a vontade de falar mais sobre isso: não, ninguém precisa usar salto. Nem em festa, nem em casamento, nem em lugar algum. Quando vejo Charlotte Gainsbourg, com 49 anos, aparece de shortinho e top sem alça em Cannes é claro que a gente repensa um monte de coisa: olha, uma mulher com quase 50 anos usando comprimento mini, pele de fora, cabelo comprido e solto. Gosto de pensar que é (também e não só) dela o mérito quando, um ano depois, a jovem Kristen Stewart aparece de short e blazer no red carpet mais esperado de todos: o Oscar.
Eu gosto muito de pensar que essas festas são a nossa oportunidade de olhar para moda de outro jeito, pensando menos em "feio x bonito" e "gosto x não gosto" e mais em "nunca tinha pensando que veria um terno roxo, com bermuda e meião, com tenis, no Oscar" — ao olhar para o look do Wesley Snipes. E tudo bem olhar e odiar, achar brega, ou amar e querer usar igualzinho? Eu, otimista que sou, quero acreditar que a gente ainda se importa com a roupa de Red Carpet porque ela é nossa chance de fugir um pouco da realidade (e no Brasil da atualidade, qualquer chance que tiver a gente pega!). E sim, tem o business, o marketing, a indústria do entretenimento, a da moda? Mas vou me conter aqui com o lado divertido da festa.
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