Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Roupa de academia no dia a dia é incentivo às mulheres a ganhar mobilidade
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Uma das tendências de moda que eu mais curto atualmente é o athleisure —que nada mais é que usar roupa de academia também no dia a dia, para outras coisas que não seja só fazer exercícios. E tem uma razão muito clara para isso, eu faço muito exercício e simplesmente não faria se eu tivesse que levar todo um universo de roupa pra tomar banho e me trocar pós treino, todo dia.
Mas assim, pra além do que eu faço e como faço, essa "autorização" que a moda tá dando para as pessoas me fez pensar por que é que a gente não achou normal, desde sempre, que a roupa de academia fosse válida pra qualquer situação? E não é que as pessoas não usassem, é claro que usavam, mas era cafona, não era trendy.
A verdade-verdadeira é que essa onda athleisure já vem antes da pandemia, mas naturalmente ganhou mais força desde que a maioria dos trabalhos assumiu o home office. Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica (para citar empresas enormes e tradicionais) assumiram que grande parte dos funcionários vai trabalhar em sistema híbrido, ou seja, tudo indica que na maioria dos trabalhos formais, ninguém mais volta a ir par ao escritório todos os dias. E isso, minha gente, tem um impacto imenso na forma como a gente se veste. Não estamos mais fazendo uma exceção para um momento de pandemia, o jeito de trabalhar, de fato, mudou.
Se vamos ficar trabalhando de casa, encontrando as pessoas apenas da cintura pra cima, é claro e evidente que a ideia de conforto passa a ser uma prioridade inegociável. Quase ninguém vai ficar sentado na cozinha de casa com uma calça de alfaiataria e um scarpin de salto alto. E se a conversa é conforto, roupa de academia entra nadando de braçada nessa conversa.
Mas, também queria puxar o bode pra sala e te chamar pra pensar: quantas pessoas, de fato, conseguem treinar, tomar banho, trocar de roupa e ir trabalhar? Poucas, muito poucas. Pensa só: ir e voltar para casa se arrumar, demanda um tempo absurdo, quem começa a trabalhar muito cedo, tem filhos, pega condução lotada, sequer cogita um negócio desses. Quem vai levar roupa pra trocar na academia? Quem tem carro, em geral, do contrário, o trabalho é absurdo, uma mala extra, uma função enorme. E nem vou falar das pessoas que vão treinar na rua, nos parques, na praça? Eu, que tenho carro e filho e uma rotina sem rotina, desisti completamente dessa ideia e, na maioria das vezes, eu vou direto do treino pra minha atividade seguinte.
Sim, eu fico suada, mas eu considero que não viro um gambá que empesteia o ambiente. Eu termino o treino, lavo o rosto, prendo o cabelo num coque bem presinho e, em geral, troco só a parte de cima da roupa. Quando to muito animada, eu troco o tênis. E é isso aí. Naturalmente, já que trabalho com moda, eu escolho peças de treino com modelagens mais diferentonas e as blusas que uso no pós academia eu cuido pra que sejam bem estilosas e, na mistura, eu consigo equilibrar o look final.
Do alto do meu privilégio de ter um trabalho flexível e que não exige um dress code super formal, eu gosto de pensar que toda vez que eu faço essas misturas eu convido outras pessoas a fazerem também. Acho muito elitista essa ideia de que temos que estar impecáveis o tempo todo. Não temos. Não é humanamente possível um negócio desses e eu realmente prefiro fazer exercício a ser uma donzela do século 19.
A minha sensação é que o athleisure traz para a moda a ideia de atividade, força, energia e essa é uma mensagem que me interessa. Gosto muito de incentivar que mulheres se deem o direito de ter mais mobilidade.
Não me entenda mal, eu amo salto alto e sou completamente fã de minissaia, mas conseguir correr, subir, descer, abaixar e me movimentar sem uma roupa me atrapalhando, em geral, me interessa mais.
A moda muda quando a gente consegue reinventar os códigos. Se calça legging durante um tempo foi uma calça que dava um ar de preguiça da roupa, hoje pode não ser mais e eu realmente entendo que meu trabalho é forçar os códigos para que eles mudem. Me interessa demais a ideia de que se a gente normaliza a roupa de academia no dia a dia, a gente também traz mais gente pra fazer exercício. A moda precisa trabalhar para as pessoas e não ao contrário. Sem contar o gasto, né? É muito caro ter um armário pra fazer exercício e outro pra viver a vida. Por que não misturar? Por que não usar um top de academia como cropped? Uma bermuda biker com camisa?
E, bom, sobre o suor, só tenho uma coisa pra te dizer: eu morei por quase dez anos no Rio de Janeiro. E desses dez anos desconfio que passei apenas meia dúzia de dias sem estar suada —mesmo ser ir a academia, só vivendo o clima tropical, mesmo. Suor não é crime e nem é substância radioativa. Dá pra administrar.
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