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Thais Farage

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O estilo elegante é uma definição de moda ou de classe?

Até Anna Wintour usa smartwatch com roupa de festa e muita peça chamativa, colorida e estampas nada clássicas - Arturo Holmes/MG21/Getty Images
Até Anna Wintour usa smartwatch com roupa de festa e muita peça chamativa, colorida e estampas nada clássicas Imagem: Arturo Holmes/MG21/Getty Images

Colunista de Universa

27/08/2022 04h00

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Respirei fundo e pensei "vou começar a minha coluna dessa semana procurando no dicionário o significado de elegante". Pois bem, elegante, segundo o "Aurélio", significa: apurado, fino, chique, refinado, requintado, seleto, sofisticado.

E eu não sei onde foi que a moda se perdeu, mas na consultoria de estilo tradicional, "elegante" significa um estilo que deixa claro que eu tenho mais dinheiro, mais tempo e mais dolce far niente que todo mundo à minha volta.

Segundo o livro de regras do século passado, o estilo elegante é aquele em que a mulher usa muita alfaiataria. Tudo passado, lustrado, caimento perfeito, tecidos nobres. São as mulheres que têm roupa feita sob medida e que jamais usam peças muito chamativas.

Estampas? Só as clássicas: xadrez, listras e, quem sabe, uma bolinha. Não pode ter nada esportivo —imagina usar tênis ou smartwatch! Sapatos só de couro e modelos atemporais —scarpin, mocassim.

No Michaelis online, elegante é:

1- Que tem ou revela bom gosto e estilo na apresentação e nos movimentos; alinhado.
2- Diz-se de lugar onde vivem ou por onde circulam pessoas requintadas, seletas; chique, fino, sofisticado.
3- Que escolhe bem as palavras; que tem estilo impecável; apurado, correto, distinto.
4- Que é dotado de correção moral; honesto, honrado, nobre.
5- Que prima pela clareza e coerência (diz-se de proposta, solução etc.); coerente, fácil, simples.

Indo direto pro que interessa, o "estilo elegante" é bobagem sem fim. Pra começar, qualquer pessoa que estude moda hoje em dia sabe que não existe mais usar os sete estilos universais —primeiro porque ele não contempla a contemporaneidade, segundo porque ele não é universal: só pensar que a moda do continente africano ou oriental sequer é considerada nessa categorização.

Depois, eu acho muito impressionante como no atual momento do mundo ainda haja espaço para um "estilo" que se vangloria de rico, que é, por definição, calcado na diferença financeira entre as pessoas. Porque desse jeito que tá aí —alfaiataria impecável, feita sob medida— é IMPOSSÍVEL que alguém que ande de ônibus ou tenha filhos (e cuide deles) seja elegante. Não há maneiras. Qualquer estilo eu consigo pensar em adaptações para a vida real, já o elegante, me parece próximo do impossível.

Aí você pode me dizer que dinheiro é um tema que sempre atravessa a moda —e eu concordo. Mas precisa ser um exercício pensar os códigos sem que isso seja exclusivo para menos de 1% da população. Estilo de vestir precisa ser sobre expressão, sobre conexão, sobre comunicação, sobre paixão. Não pode ser só e somente sobre dinheiro.

Costanza - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
A empresária e consultora de moda brasileira Costanza Pascolato
Imagem: Reprodução/Instagram

Não vou ser hipócrita: é muito mais fácil conseguir "ter estilo" assim, bem no senso comum da ideia, quando se tem dinheiro. Porque quase tudo na vida capitalista é mais fácil se você tem dinheiro —mas se a gente acredita que a forma como as pessoas se vestem é um jeito delas se expressarem no mundo, pre-ci-sa existir um jeito de mulheres pobres serem elegantes também.

Tem que ter um jeito de ser elegante sem que seja com tanta regra de perfeição, né?

Tem que ter peças esportivas que ajudem na mobilidade do elegante gente-como-a-gente, tem que ter um sapato que guenta pegar uma chuva, uma look arrumado que não é alfaiataria sob medida engomada três vezes. Mas, sempre que proponho algo assim, a consultoria de moda tradicional me responde: "Não, não, isso não é elegante".

Para além disso, a definição de elegância me parece parada no tempo, com pelo menos com um século de delay. Não basta ser rica, tem que ser de época. Basta olhar para mulheres símbolos de elegância na moda: Costanza Pascolato —sempre de tênis e smartwatch— ou até a Anna Wintour —que colocou a Kim Kardashian na capa da "Vogue"— usa smartwatch com roupa de festa e muita peça chamativa, colorida e estampas nada clássicas. Se nem elas cabem nesse código aí, meodeus, quem cabe?

Traduzindo pro português, "estilo elegante" tem a ver com old money, com nascer rico, ter berço, viver de renda. E, tudo isso, sinto muito, não é mais sobre moda, roupa e expressão. É só e somente sobre classe.