O corpo da mulher é visto como público e segue sendo violentado
Eu lembro exatamente da minha infância, quando ouvia o tempo todo, que mocinha (uma criança) não pode sentar de pernas abertas. Sentar assim era (é) abominável e logo condenado. Enquanto eu precisava ter modos para sentar e ficar com minhas perninhas fechadinhas, via meus primos sentando sem modos, com as pernas abertas e sempre com as mãos nas partes íntimas. Isso era motivo de riso, e até de orgulho.
Quando um deles, "ousava" ter mais postura mais quieta e sentar de maneira minimamente educada, já era alvo de piadas. "Parece uma mulherzinha. Senta que nem homem, p*#$@"!
Assim, íamos "aprendendo" que existe a forma correta de homens e mulheres se comportar.
Logo depois, no início da adolescência, começou a existir a preocupação com as roupas que eu escolhia. Meus tios falavam dos tamanhos dos meus shorts e saias e que não era certo usar calça justa. Estava sempre sendo criticada, ouvindo de alguém que meu corpo tinha que ficar escondido.
Quando me tornei jovem e arrumava um namoradinho, sempre tinha um para me dizer o que vestir, o que usar. Até ouvir a frase clássica: "Mulher minha, não usa esse tipo de roupa".
Assim, eu aprendia a odiar meu corpo e associar ele a algo nojento, já que eram censuradas sempre as peças que mostravam minhas curvas. Assistia os meninos sendo incentivados a cobiçarem as mulheres, a tratá-las como objetos. Para serem considerados "machos" de verdade, tinham (tem) que estar sempre ávidos pelo coito, olhar para as fêmeas com desejo e com vontade de possuir seu corpo.
Observem como os homens se gabam de terem iniciado a vida sexual cedo. Nada disso fazia o menor sentido. Se o meu corpo tinha que ser escondido, por que os meninos eram incentivados a demonstrar desejo pelos corpos desnudos?
A resposta dessa pergunta é o resultado dessa sociedade desequilibrada. Que termina em responsabilizar a mulher quando ela é violentada. Essa forma cruel de criar os homens, naturalizando a sua postura doentia em olhar para as mulheres como predadores, nos trouxe para esse local asqueroso que nos faz questionar a inocência de uma garota que foi duramente violentada dos seis aos dez anos, e só parou quando engravidou do seu estuprador e a barriga cresceu.
Foi o feto que ela carregou no ventre que denunciou o crime. Mas, pasmem o que chocou boa parte dos cidadãos de bens, foi o aborto legal e amparado pela constituição, que a criança precisou ser submetida, depois que toda a violência que passou.
É a "publicização" dos corpos femininos e a naturalização das violências que sofremos. E quando falo dos corpos femininos, falo também das mulheres trans e das travestis, que são assassinadas e suas mortes são banalizadas.
Agredir mulher tem sempre uma justificativa e a culpa nunca é do agressor. Encontram um jeito de responsabilizar a mulher. Sempre tem alguém para lançar o "mas, também, ela..."
Homens são incentivados a serem agressores. Seja de forma psicológico, emocional ou física... Às mulheres cabem os pedidos de desculpas por serem quem são.
Não! Estamos fazendo a revolução. Não vamos nos desculpar por termos autonomia sobre nossos corpos, vontades e quereres. Vamos de fato propor e implantar a transformação! Ela será feminina e altiva, com cada uma de nós assegurando nosso direito à vida!
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